O protagonismo de Minas na rota do novo vinho brasileiro
Desde que os europeus chegaram ao Brasil, há videiras. Mas a produção de vinhos só vingou no final do século 19, quando os imigrantes italianos na Serra Gaúcha conheceram a uva americana Isabel, que produz vinho de mesa. No século 21, uma nova revolução teve início. A vitivinicultura ultrapassou as fronteiras gaúchas e ganhou novos terroirs Brasil afora. A região Sudeste se destaca na nova produção de vinhos finos e Minas Gerais tem protagonismo. Em 2020, o Estado reunia, em 15 cidades, 22 produtores de vinhos finos. Hoje são 90 em 53 cidades.
Foi a técnica da dupla poda, desenvolvida no Brasil pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que trouxe as uvas de excelência para a região. Essa técnica agrícola consiste na inversão do ciclo da videira por meio da realização de duas podas por ano e possibilita o cultivo de espécies de origem europeia, que produzem os chamados “vinhos finos”. Antes da nova técnica, isso era impraticável.
Ao contrário das regiões tradicionais de produção de vinho, onde a colheita é realizada no verão, o processo se beneficia de características do inverno: clima seco aliado à amplitude térmica, para que os cachos amadureçam na planta conferindo grande qualidade às uvas e ao vinho. Foi assim o surgimento dos “vinhos de colheita do inverno”.
Além do desenvolvimento da técnica, a Epamig apoia produtores iniciantes, realizando o processo de vinificação na sede de Caldas. Chegam com suas uvas e saem com o vinho pronto. O apoio inicial aos novos produtores pode durar até cinco anos. Os vinhos “Maria Maria”, da Fazenda Capetinga, que fica em Boa Esperança, no Sul de Minas, é um exemplo de sucesso.
Atualmente, vinhedos de tamanhos distintos de 17 cidades do Estado são vinificados lá. De Itabira, região Central; Aiuruoca, no Sul de Minas; a Uberaba, no Triângulo Mineiro. Ainda há vinhedos de São Paulo e do Rio de Janeiro. No total, a empresa produz 35 mil litros de vinhos finos por ano. Apesar de seguirem a mesma técnica, o enólogo da Epamig Lucas Bueno do Amaral garante que cada um mantém personalidade própria.
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As novas fronteiras vitivinícolas caminham juntas com suas castas emblemáticas. Por aqui, o destaque é a uva Syrah. Primeira a se adaptar ao manejo da dupla poda com produtividade e qualidade, tem boa resposta em regiões mais quentes. Ícone da região do Rhône, na França, onde estão as maiores plantações desta variedade, também é muito popular na Austrália, segundo maior produtor, onde a casta é conhecida como Shiraz. A depender da região – mais quente ou mais fria – que a casta se desenvolve, os vinhos podem ter características semelhantes a essas duas regiões importantes da indústria mundial. Os mais tânicos lembram os Shiraz australianos; os mais delicados e frutados, um Syrah francês.
O resultado não é uma cópia do que já estava no mercado. Os vinhos do Sudeste têm características próprias e encantam os paladares nacionais e estrangeiros. Não à toa, rótulos da região, como o Sacramentos Sabina Syrah e o Bel Sauvignon Blanc, da Maria Maria Vinhos (que começou a vinificar lá na Epamig!), receberam prêmios no Brasil e lá fora.
É neste espaço, a partir de hoje, que pretendo trazer as novidades e sabores do novo vinho brasileiro.
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