Riesling e Alvarinho: desfazendo antigos preconceitos
A geração X, nascida nos anos seguintes a 1965, costuma repetir que sobreviveu aos anos 80. Época pré-Estatuto da Criança e do Adolescente tinha na TV e nas rádios umas bizarrices impensáveis hoje em dia. Mas os anos 80 tinham outros grandes desafios. E, para mim, um dos maiores era o vinho da garrafa azul! Como era uma das poucas opções nas gôndolas, a gente comprava ele mesmo.
E qual o resultado disso? Trauma! De origem alemã, a casta Riesling ficou associada ao Liebfraumilch, o tal vinho da garrafa azul. E ela era realmente uma das castas utilizadas neste vinho considerado de baixa qualidade e com açúcar adicionado, um estilo que não é mais a regra atualmente. Por conta disso, a pobre uva sofre preconceito até hoje. Uma bobagem. Trata-se de uma casta com aromas frutados e florais e bastante acidez, capaz de produzir rótulos excelentes, secos e até doces, com a colheita tardia. Obviamente, sem adição de açúcar.
Hoje está difundida em muitos terroirs de clima ameno. Da Alemanha, vêm grandes rótulos desta cepa, assim como da vizinha Alsácia, na França. São garrafas que podem envelhecer por anos e desenvolver sabores de mel e petróleo.
No Brasil, temos muitos vinhos e espumantes da Freising itálica, que, como o próprio nome sugere, é oriunda do norte da Itália. Se adaptou bem no Rio Grande do Sul e desenvolve uma complexidade aromática com notas cítricas, florais e minerais. É inclusive uma das castas permitidas na Denominação de Origem (DO) Altos de Pinto Bandeira, de espumante natural.
Não foram só os vinhos da garrafa azul que deixaram trauma na geração X. Certas garrafas de vinho verde, da região Noroeste de Portugal, deixam marcas profundas até hoje. Também não havia muitas opções e boa parte do que chegava a preços pagáveis era muito ruim, até com açúcar adicionado.
Hoje, a variedade de vinhos portugueses é enorme e os verdes brancos estão alinhados com a tendência de consumo mundial, que reclamam um teor alcoólico moderado, entre 11% e 12,5%. São uma ótima alternativa, de vinho jovem, fresco e leve, com notas cítricas e aromas tropicais, para tomar geladinho nos nossos dias quentes de verão.
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Segundo o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde (CIPVV), em Portugal, existe uma diversidade entre os vários micro-climas: desde os de estilo clássico, jovens, leves, frescos e com baixo teor alcoólico aos sofisticados, com grande potencial de guarda, aromas e sabores complexos, intensos e minerais. Todos são feitos de uvas autóctones. Na parte norte da região, com temperaturassignificativamente mais elevadas do que no resto da região, a Alvarinho dá origem a um vinho seco, encorpado, de caráter mineral, com um aroma sutil, fresco e complexo de pêssego. Um pouco mais ao sul, a principal casta é a deliciosa Loureiro, embora a Arenito e a Trajadura também sejam frequentemente utilizadas em combinações perfeitas.
Hoje, temos mais informações à disposição e uma infinidade de bons rótulos. Portanto, jogue-se na ação mais importante na empreitada contra os preconceitos: beba vinho!
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