Vinho da Casa

Proibido pela corte portuguesa, o vinho brasileiro lutou bravamente para ter sua independência

No período colonial, portugueses dominavam o setor, controlado com mão de ferro pela família real

Quando a corte portuguesa desembarcou no Brasil, em 1808, reforçou na colônia o hábito europeu de beber vinho. A abertura dos portos às nações amigas foi uma das primeiras medidas tomadas por Dom João VI, quebrando o Pacto Colonial, que só permitia o comércio com os próprios colonizadores.

A abertura, porém, não significou, no início, uma festa de vinhos franceses ou italianos. Os portugueses dominavam o setor, controlado com mão de ferro pela família real, a maior beneficiada pelas importações. Já na chegada ao Brasil, a realeza foi brindada com um mimo de 2 mil garrafas enviadas pela Real Companhia Velha, a mais antiga vinícola portuguesa. O presente elevou a qualidade do vinho que se bebia no Brasil à época.

Sim, porque bebia-se vinho. Há inclusive registros da produção brasileira, sempre combatida pela Coroa para não disputar com as importações europeias. Foi preciso o grito da independência para que a indústria de vinho nacional pudesse encontrar um caminho e investir em qualidade.

Segundo relatos reproduzidos no livro 1808, do jornalista Laurentino Gomes, mesmo na casa das famílias ricas havia uma espécie de vinho fraco. De qualidade duvidosa também era o vinho da travessia do Atlântico. No calor dos trópicos, a água apodrecia logo e, por isso, a bebida regular nos navios era vinho de qualidade ruim.

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Na falta de um bom exemplar nacional e com o monopólio do colonizador, durante a Era Joanina, os brasileiros se viravam com o que chegava por aqui.

Um dos rótulos populares à época era da Denominação de Origem (DO) “Bucelas”. Produzido na freguesia de mesmo nome e em algumas vizinhas, como Fanhões e Santo Antão do Tojal, a cerca de 25 quilômetros a norte de Lisboa, são vinhos brancos, da casta Arinto (pelo menos 75%), com 10,5% de volume alcoólico. No blend, pode entrar também Sercial (Esgana Cão) e Rabo de Ovelha.

Havia também garrafas da Denominação de Origem Controlada (DOC) “Carcavelos”, fabricados entre Cascais e Estoril. Licoroso, delicado, aveludado, com um certo aroma amendoado, adquirindo um perfume acentuado e característico com o envelhecimento. Volume alcoólico entre 15% e 22%.

Mas havia também os icônicos vinhos fortificados da Ilha da Madeira. As características, a partir de cinco anos de envelhecimento, são uma acidez equilibrada, com notas de frutos secos, caramelo e mel, evoluindo para um final de boca longo. Os extra-seco, seco e meio-seco são leves e frescos, enquanto os meio-doce e doce são macios e mais encorpados.

Uma maravilha para harmonizar com o queijo preferido da época: do tipo Edam, do Norte da Holanda. Escapava do monopólio português e era o mais popular do mundo desde o século XIV, especialmente em viagens marítimas e nas colônias distantes, pois maturava bem e podia envelhecer, sendo fácil de transportar e comer. Uma técnica que aprendemos muito bem, reproduzida por grandes marcas fabricadas especialmente na cidade de Santos Dumont, Sul de Minas Gerais.

Hoje, mais de dois séculos depois da nossa independência, podemos brindar conquistas no mundo do vinho e dos queijos. Do Brasil ou de Portugal.

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