Vinhos sustentáveis: um mercado em expansão
As mudanças climáticas já não são mais um tema setorizado. Elas impactam praticamente todos os aspectos da nossa vida. No mundo do vinho, antigos terroirs se adaptam à novas castas, enquanto vinhedos surgem em regiões antes tímidas, como o sul do Reino Unido.
As respostas às mudanças são diversas. Entre a negação, o ceticismo e a ansiedade climática, existem os adaptáveis, que incorporam hábitos de preservação ao cotidiano.
Para esse grupo, há vinhateiros de taça cheia. A produção orgânica ou biodinâmica, sem intervenções químicas no solo, no fruto e na vinícola, está no centro das atenções. Produtores que seguem essas práticas são cada vez mais valorizados pelo público.
A produção orgânica se preocupa em não usar químicos artificiais. Já a biodinâmica vai além: olha a fazenda como um todo, quase como se fosse um organismo vivo, tudo funcionando em conjunto. Inspirada na antroposofia, ela recorre a preparados naturais de plantas e adubos, seguindo um calendário que leva em conta os ciclos da lua e a influência de outros astros.
Existem certificações específicas para cada modalidade. Edgar Giordani, da Vinum Terra, em Monte Belo do Sul (RS), alerta sobre a importância de identificações corretas. Na sua vinícola, não há intervenção química; as leveduras vêm do próprio vinhedo. Para Giordani, qualquer intervenção altera o perfil do produto final.
O mercado de orgânicos cresce rápido. Segundo o relatório “Organic Wine Market Forecast to 2028”, a produção e o consumo devem atingir US$ 24,55 bilhões em 2028, um crescimento anual médio de 12% em relação ao patamar registrado em 2022, da ordem de US$ 12,47 bilhões.
A vinícola chilena Emiliana é um exemplo desse crescimento. De grande porte, migrou para as práticas orgânicas na década de 1990 com sucesso e derruba o conceito de que a produção sustentável só é possível em pequenas escalas.
É o mesmo que acontece em outra referência da indústria, a portuguesa Esporão, que representa hoje cerca de 30% da produção de uvas biológicas total do país. Há rótulos de bom custo-benefício, como o tinto Monte Velho Orgânico (Aragonez, com Touriga Nacional e Syrah, sem passagem por madeira).
Outro ator deste mercado é a Matetic. Fundada em 1999 pela família de mesmo nome, a vinícola combina práticas tradicionais com técnicas modernas. Em terroir de clima frio costeiro, destaca-se pelo respeito ao meio ambiente, refletindo o compromisso com a preservação e a integridade do terroir. São três linhas de vinhos: Matetic, EQ e Corralillo.
A importadora Elevage traz os rótulos biodinâmicos da Antiyal, produzidos na vinícola familiar do renomado enólogo Álvaro Espinoza, grande entusiasta dos vinhos sustentáveis.
Na Argentina, a Domaine Bousquet nasceu em 1997, quando a família francesa comprou 240 hectares de terra virgem em Tupungato, no Vale do Uco. De lá pra cá, virou referência em vinho orgânico no país, muito por conta da demanda de orgânicos pelos países nórdicos. Hoje também seguem práticas regenerativas e biodinâmicas. Um caminho que, torcemos, seja sem volta.
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