Zona da Mata começa a despontar no cenário vitivinícola mineiro
As versões para a origem dos Vinhos da Mata são variadas e com muitos personagens. O importante é que, em determinado ponto, todos eles se encontram para contar essa história juntos.
De forma cronológica, é preciso apresentar o engenheiro agrônomo Sérgio Motoike, que há 30 anos dá aulas na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Entre suas pesquisas estava a vitivinicultura e a certeza de que a Zona da Mata tinha total aptidão para a produção de vinhos: altitude elevada e um outono seco, com amplitude térmica a partir de maio, condições que sempre privilegiaram a produção de cafés gourmet.
No campus, desde 2001 é cultivada uma variedade híbrida franco-americana, a chambourcin. De colheita de inverno, é resistente a doenças e produz um vinho tinto de qualidade. A área serve para aulas práticas de cultivo e produção. “Quando o interesse pela vitivinicultura na região aumentou, a área de produção na Universidade foi ampliada”, conta o professor.
O crescimento tem a ver com o “boca a boca” de um grupo de novos vinhateiros que pretendem atrair outros produtores para a pequena Vieiras, município vizinho a Muriaé.
À frente do grupo estão o designer Daniel Maia e a relações públicas Silene Berne, que fundaram a vinícola Alto do Gavião. Com a estrutura ainda em construção, os vinhedos estão na quarta colheita, com as duas primeiras já engarrafadas.
O entusiasmo da dupla, que já tem uma segunda fazenda, a Campo de Estrelas, atraiu inúmeros sócios e os planos são ousados. “Estamos trabalhando para que, num futuro próximo, o Vinho da Mata seja uma IG (indicação geográfica)”, projeta Silene Berne.
Segundo ela, os vinhos locais têm “complexidade, notas de chocolate e café, que são aromas terciários, mesmo sem barrica. Ainda estamos estudando o porquê, mas são tintos com muita fruta vermelha e final intenso e prolongado”, descreve a vinhateira.
Já em Lima Duarte, a inspiração é o Rhône, região que o engenheiro Leonardo de Paula e a advogada Ana Carolina Garcia percorreram. Eles foram conhecer in loco um dos principais terroirs da França e decidiram trazer um pouquinho do que viram para a Zona da Mata, onde a família mantinha uma fazenda de gado leiteiro.
Na propriedade está sendo criada, desde 2016, a vinícola Garcia de Paula. Os vinhedos começaram a brotar em 2022. A qualidade das 100 primeiras garrafas deu entusiasmo para o casal seguir em frente.
Hoje, são 2,5 hectares plantados, entre Syrah e Sauvignon Blanc, 30% em plena produção. A ideia é chegar a 10 hectares e investir em enoturismo.
“Ano que vem, já teremos parte do receptivo. Será uma vinícola boutique com aconchego de fazenda”, diz Ana Carolina Garcia, ao lado do marido e dos dois filhos, que vão fazer crescer ainda mais o número de personagens dentro dessa história que está só começando.
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