Belo Horizonte,126 anos de história
Fundada já no período republicano, sob a inspiração dos novos ares políticos, culturais e estéticos que começaram a soprar a partir de 1889, Belo Horizonte nasceu planejada, embora, pouco tempo depois, a realidade tenha surpreendido várias das prescrições de seus idealizadores. Nas décadas que se seguiram a 1897, o incrível crescimento do município ultrapassou todos os limites impostos pela avenida do Contorno, que dava as suas bordas. Se voltasse, hoje, à cidade, Aarão Reis talvez não a reconhecesse. Aos cento e vinte e seis anos, Beagá não é mais o pacato e sombreado território que assistiu, tranquilo, ao começo do tumultuado século vinte. Pelo contrário, é uma das mais populosas metrópoles brasileiras e, como elas, colecionadora de inúmeros (e típicos) problemas, como os índices de violência e poluição, o aumento das temperaturas, os nós da mobilidade urbana, a terrível desigualdade social…
A cidade da minha infância igualmente desapareceu. Aquela tinha mais árvores e um clima ameno, agradável no inverno e no verão (havia as quatro estações!). Era menos verticalizada, com casas espaçosas e aconchegantes, de varanda e quintal, lembrando as hospitaleiras moradas do interior do estado, nas quais certamente muitas se inspiraram. A quantidade de prédios que depois se ergueu restringiu a vista e as possibilidades da imaginação. A Serra do Curral que conheci quando criança também já não é mais a mesma…
Ando pelas ruas e noto ausências que me provocam intensa saudade. Onde estão o Restaurante Alpino, a Cantina do Ângelo, o Bar do Lulu?… Viro para o outro lado e percebo que quase todos os cinemas de rua vivem somente em fotos. O Metrópole, o Pathé, o Jacques e o Acaiaca? Só nas páginas das nossas recordações. Ainda bem que conseguimos salvar pelo menos o Brasil, o Palladium, o Belas Artes e o Cine Santa Tereza, importantes centros de entretenimento e cultura.
Se algumas Beagás já se foram, outras, no entanto, permanecem fortes, vigorosas, resistentes, brilhando e fazendo a gente feliz. A BH da Cultura é a mais evidente e uma das que mais repercute em nossa sensibilidade, sobretudo pela beleza de sua mensagem e pela sua consistência. Seguramente aqui trabalham alguns dos melhores artistas e dos mais competentes grupos culturais do país. Em todas as áreas. E há muito tempo! Fomos a capital de Drummond, Nava e João Alphonsus, da Pampulha, de Niemeyer, Lúcio Costa, Portinari, Guignard e Lúcia Machado de Almeida. De Fernando Sabino, Oto Lara Resende, Hélio Pelegrino, Paulo Mendes Campos, Murilo Rubião e do seu Suplemento Literário. De Roberto Drummond, de Wander Piroli e de Oswaldo França Junior. De Clara Nunes, Lia Salgado, Maria Lúcia Godoi e Léo Belico. Fomos a capital do Clube da Esquina, do Sepultura e do Skank.
E somos a capital de uma linda aquarela de talentos. Quem tem a Fundação de Educação Artística, o Giramundo, o Galpão, o Corpo, o Primeiro Ato, a Mimulus, as Orquestras Sinfônica e Filarmônica? Quem tem a Quixote, a Jenipapo, a Scriptum, a Livraria da Rua? Onde moram Ana Martins Marques, Ana Elisa Ribeiro e Carla Madeira (para citar só as mulheres)?…
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