Duas biografias para ler nas férias
Conforme referi na coluna da semana passada, comento hoje duas biografias que li recentemente, e que me pareceram bastante interessantes – e bem adequadas para as férias. A primeira é “O homem do sapato branco – a vida do inventor do mundo cão na televisão brasileira” (Editora Todavia, 221 páginas), do competente jornalista Maurício Stycer, que está lançando agora outro belo trabalho, dessa vez sobre a vida de Gilberto Braga, o famoso autor de telenovelas da Rede Globo.
Já no livro sobre Jacinto Figueira Júnior, Stycer mais uma vez comprova a sua excelência como profissional da imprensa. A obra é resultado de uma pesquisa tenaz (há relativamente poucos registros sobre o seu biografado), que não deixou nada de fora, nem mesmo as informações sobre a família e os anos de formação de seu protagonista, que antes de estrear na tevê foi cantor e contato publicitário. Em linguagem precisa e fluente, o volume percorre toda a trajetória de Jacinto, com destaque para sua estreia como apresentador, sua atuação como deputado estadual em São Paulo, a cassação de seu mandato parlamentar, sua turbulenta vida amorosa, sua decadência e seu fim. O que mais importa no texto, no entanto, é conhecer os primórdios do chamado ‘sensacionalismo’ na televisão brasileira, que depois ampliaria de modo assustador sua presença na programação da maioria dos canais. Jacinto, de certo modo, descobriu e explorou, antes que todos, esse impressionante filão, inaugurando um mercado que mais tarde ganharia vários outros atores. Na introdução, Stycer sublinha: “Ao contrário da grosseria de Dercy Gonçalves, do sentimentalismo de Jota Silvestre e de Moacyr Franco, dos exageros de Chacrinha e de Flávio Cavalcanti, todos considerados pioneiros na chamada programação ‘popularesca’, Jacinto abriu uma porteira que causa mais danos do que qualquer outra porque sempre se apresentou como alguém que supostamente mostrava a verdade ‘nua e crua’”.
Em “Mussum – uma história de humor e samba” (Harper Collins, 415 páginas), o jornalista Juliano Barreto traça o perfil completo de Antônio Carlos Bernardes Gomes, desde a infância pobre na periferia do Rio de Janeiro (passando pela experiência como militar da Aeronáutica na juventude) até o sucesso como integrante do notável “Originais do Samba” e, mais tarde, como membro do inesquecível quarteto humorístico “Os Trapalhões”, liderado por Renato Aragão. Assim como no livro antes comentado, aqui os leitores também ganham mais: eles mergulham não só no percurso da vida de Mussum, mas em todo um extenso período da vida cultural brasileira, sobretudo do eixo Rio-São Paulo, conhecendo os bastidores dos grupos musicais, dos festivais da canção e da indústria fonográfica da segunda metade do século passado, bem como os meandros do mundo da televisão no País.
Num texto agradável e sedutor, farto em informações, Barreto celebra a memória de um brasileiro preto de origem bastante humilde e que venceu todos os obstáculos postos ao longo de seu caminho com jogo de cintura e alegria, contribuindo para resgatar e preservar o legado de um artista que por muito tempo habitou o repertório afetivo de milhões de pessoas.
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