“Latim em pó”, de Caetano Galindo
Convidado do projeto “Divinas Conversas”, da Fundação Torino, do próximo dia 13 de setembro, às sete e meia da noite (com entrada franca), Caetano Galindo nasceu em Curitiba, em 1973. Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é autor de vários livros. Tradutor e ensaísta, chegou a finalista do Prêmio Rio de Literatura com “Sim, eu digo sim: uma visita guiada ao ‘Ulysses’ de James Joyce”, de 2016.
Três anos depois, lançou a coletânea de contos “Sobre os canibais” e, em 2020, “Onze poemas”. Desde o ano passado, o seu “Latim em Pó – Um passeio pela formação do nosso português” (Companhia das Letras, 227 páginas) frequenta a lista dos mais vendidos. E com razão.
O volume traça um breve mas preciso panorama da trajetória da língua portuguesa, desde os primórdios, em uma linguagem acessível e agradável. Num estilo coloquial e descontraído, próprio para atrair os mais jovens, Caetano vai conduzindo os leitores pelas distintas fases da História que marcaram o surgimento, a formação e a consolidação do idioma, como o Império Romano, a invasão dos bárbaros, a chegada dos árabes à Península Ibérica, a sua ‘reconquista’ pelos reis católicos Fernando e Isabel, a criação do Estado nacional português e as suas conquistas marítimas, que acabaram resultando nos chamados ‘descobrimentos’.
A entrada da língua portuguesa no nosso território e suas ricas e complexas interações com aquelas faladas pelos povos originários e, mais tarde, com as línguas trazidas pelos africanos escravizados, geram capítulos preciosos da obra, lançando luzes, também, sobre a constituição da identidade brasileira. Na parte intitulada “Pretoguês”, Caetano escreve: “Se é para pensarmos no português brasileiro como algo que se encontra num caldeirão, é preciso reconhecer o quanto desse caldeirão teve que ser mexido e remexido para produzir a nossa atual paisagem linguística. E é preciso reconhecer também que os primeiros e mais importantes desses movimentos foram determinados pela grande massa de falantes africanos que iam carregando e modificando essa língua durante todo o processo. Refundado e recaracterizado por eles. Apesar das adversidades, foi a língua falada por negros e mestiços que dominou o Brasil. Somos um país que fala português como fruto direto da presença negra. Talvez caiba deixar de lado por um momento a bela ideia da ‘última flor do Lácio’. O português brasileiro foi um broto africano, flor de Luanda”.
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Mais adiante, a contribuição das mulheres também é destacada: “Numa história em que as mães parecem ter tido um papel tão central (por que aquelas palavras africanas ligadas à infância nos são tão caras?), e que acabou gerando essa nossa estranha e poderosa irmandade, uma nação e uma comunidade baseadas na maternidade e na fraternidade, na mátria e na fratria, me parecem mais sedutoras como potencial e mais definidoras do que possa existir de esperançoso no ‘modelo brasileiro’ de formação linguística: uma história que parece ter muita ligação com os modelos ameríndio e africano, todos eles baseados em estruturas menos lineares, delimitadas e rígidas, mais interpenetráveis e flexíveis”.
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