Viver em Voz Alta

Os vinte e um anos do projeto “Livro de Graça na praça”

A cultura fornece a um povo a sua memória, a sua identidade e as suas esperanças. Por meio dela, os seres humanos representam a realidade e sonham com novos mundos, possíveis e impossíveis, recriando o universo à sua volta. De todas as formas de expressão cultural, a Literatura é uma das mais potentes.

Prosa e poesia são instrumentos mágicos, capazes de transportar os leitores a outras dimensões, expandindo a sua consciência e a sua visão de mundo. Nossa espécie não vive sem contar histórias, muito menos sem ouvi-las. As narrativas alimentam a nossa alma, amparando nossa passagem pelo planeta e nos ajudando a conviver com os mistérios da existência e com o seu irremediável fim.

Com o advento da escrita, a rica tradição oral pôde fixar-se em meios físicos. Um dia nas famosas tabuinhas de argila. Noutro, e até a atualidade, sobre o papel. Ainda que os digitais sejam bastante eficazes para aumentar a circulação dos livros, não há dúvida de que a sua versão impressa detém carisma infinitamente superior. Sou dos que adora correr a uma boa livraria e passar um tempo razoável contemplando os volumes postos à disposição do público. Também costumo visitar as bibliotecas para conferir seus acervos e, sobretudo, as obras raras. Alguns amigos bibliófilos (como Antônio Carlos Secchin e Amílcar Martins Filho) vão mais longe, resgatando muitas delas do extravio ou do esquecimento, reconhecendo-as e valorizando-as devidamente para reuni-las em coleções preciosas, de valor incalculável.

Outros atores importantes na vida dos livros são os seus divulgadores, categoria em que incluo os educadores, os bibliotecários, os jornalistas, os críticos e os promotores culturais. Um dos melhores divulgadores que conheço é isso tudo, ao mesmo tempo. Falo de José Mauro da Costa, o pai amoroso do “Livro de graça na praça”, projeto que agora completa vinte e um anos, sempre querido e aguardado por todos. O bem que faz à comunidade não se restringe somente a Minas Gerais, onde nasceu. Já alcançou o país todo, como provam suas mais recentes edições. Nosso compadre Zé Mauro tem o brilho nos olhos de quem ama o que faz. Como resistir aos seus convites? Como não embarcar em suas aventuras? Como não se integrar ao formidável time de autores que ele agrega anualmente, em torno de suas memoráveis antologias?

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Se o “Livro de Graça na praça” renova a convicção na potência e no vigor da literatura, outra de suas características marcantes é a de destacar a presença do objeto ‘livro’ na paisagem urbana. Sim, o livro precisa habitar a praça, assim como também deve rodar pelos ônibus e pelos táxis, pelas linhas de metrô e pelos aeroportos, sem esquecer os parques, as esquinas, as avenidas e os becos, os centros e as periferias… É bem melhor viver numa cidade ocupada por eles que num lugar triste, feio e perigoso, onde as pessoas andam armadas, com medo umas das outras. Os livros são a antítese da violência. São um chamado ao diálogo, à alteridade e à empatia. Estão do lado da civilização, contra a barbárie. Por tudo isso, José Mauro da Costa merece nossos efusivos parabéns, que cantaremos todos juntos no domingo, dia 17 de setembro, entre oito da manhã e meio-dia, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. Que venham os próximos vinte e um anos!

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