Posse de Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras acontece nesta sexta-feira
O patrono da cadeira de número quarenta da Academia Mineira de Letras (AML) é o Visconde de Caeté, nascido em 1767 e falecido na cidade do mesmo nome, em 1838. Formado em direito em Coimbra, Portugal, como era comum em sua época, foi o primeiro presidente da província de Minas Gerais, entre 1824 e 1826. Senador do Império e deputado à Assembleia Constituinte de 1823 (dissolvida por Pedro I), sua contribuição mais importante para a cultura brasileira foi, sem dúvida, a organização de um dicionário da língua tupi, num tempo em que iniciativas de tal natureza eram raríssimas.
Fundada por Pinto de Moura, a mencionada cadeira tem como primeiro sucessor o notável Afonso Pena Junior, nascido em Santa Bárbara, em 1879, e falecido no Rio de Janeiro, em 1968. Pena Junior era filho do presidente Afonso Pena. Formado em direito, lecionou direito internacional e direito civil na Universidade de Minas Gerais, hoje a UFMG. Foi secretário de Estado e deputado estadual. Já no Rio de Janeiro, onde também deu aulas, atuou como juiz do Tribunal Superior Eleitoral e foi ministro da Justiça.
Poeta simbolista e reitor da Universidade do Distrito Federal, integrou a Academia Brasileira de Letras, onde foi recebido, em 1948, por Alceu Amoroso Lima.
A sucessora de Pena Junior na cadeira quarenta foi a professora, ensaísta, romancista e poeta Maria José de Queiroz, mineira de Belo Horizonte. Uma das mais jovens catedráticas do País, foi a segunda mulher a eleger-se para a AML, pouco depois que a instituição aprovou o nome de Henriqueta Lisboa para a cadeira de número vinte e seis, hoje ocupada por Jota Dangelo. Vocacionada para a docência, Maria José ensinou na Sorbonne, em Lille, em Bordeaux, em Aix-em-Provence, em Bonn, em Colônia, em Indiana, em Harvard e em Berkeley. Assinou mais de três dezenas de livros, entre os quais “Joaquina, filha do Tiradentes”, adaptado para a tevê pela Globo sob o nome de “Liberdade, liberdade”.
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Convivi com a personalidade inquieta e originalíssima de Maria José por cerca de sete anos. De inteligência viva e marcante, amava a literatura e as artes. Gostava de cantar. Sempre ao final das refeições, liderava uma roda de canto. Seja no Rio de Janeiro (onde morava em amplíssimo apartamento na rua Paula Freitas), seja em Belo Horizonte, apreciava reunir os amigos em torno de boas conversas, divertidas e bem-humoradas. Seu falecimento, em novembro de 2023, abriu imensa lacuna no panorama intelectual brasileiro. O que ameniza a sua falta é o seu legado, vigoroso e potente, que permanecerá.
Hoje, às 20 horas, a cadeira de número quarenta ganhará nova titular. Eleita em 15 de fevereiro, Conceição Evaristo tomará posse em cerimônia histórica, no Dia Internacional da Mulher. O discurso de recepção a ela será feito pela acadêmica Antonieta Cunha. O distintivo será entregue por Ailton Krenak.
Terei a honra de passar a ela o diploma. Nascida na Comunidade do Pindura Saia, em Belo Horizonte, Conceição fez graduação, mestrado e doutorado em Letras. Deu aulas na rede pública de ensino do Rio de Janeiro e na Universidade Federal Fluminense. Autora de sete impressionantes livros, é uma das personalidades mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Além de pessoa encantadora, com quem todos adoram conviver.
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