Ricardo Aleixo toma posse na Academia Mineira de Letras
Nascido em Belo Horizonte, em 1960, Ricardo Aleixo é hoje, sem dúvida, um dos mais importantes poetas brasileiros, seja pela potência de seu projeto literário, a que é fiel desde que começou, há quase cinco décadas, seja pelo rigor e a excelência com que trabalha a linguagem. Corajosa, ousada, inovadora, a obra erguida por Ricardo não se filia a nenhuma escola, grupo, ala ou corrente. Nem se deixa classificar. A liberdade e a independência são duas de suas marcas registradas, embora estabeleça diálogo fértil com a tradição e com autores como os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, e Décio Pignatari, entre outros. A reverência às poéticas africanas, afro-brasileiras e ameríndias é, igualmente, merecedora de destaque, saindo do esquecimento ou das margens a que muitos as relegam.
Outro ponto essencial para a compreensão do trabalho de Ricardo é o modo como se relaciona com a palavra – que, para ele, pode ser escrita, cantada, falada, dançada e até vestida (em ‘poemanto’). O artista não se atém a um ou outro canal ou meio de expressão, ocupando a cena tanto com o livro quanto com o canto e a performance. Escrevendo com o corpo, investe na força da voz e do silêncio, das cadências e dos compassos, dos ritmos e dos movimentos. Autor de mais de vinte livros, já foi finalista dos mais importantes prêmios literários brasileiros, como o Jabuti e o Oceanos.
Dois de seus livros ocupam um lugar muito especial em minha estante: “Campo Alegre”, da ‘Coleção BH: a cidade de cada um”, editada por José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião, e “Sonhei com o anjo da guarda o resto da noite”, dois títulos em que Ricardo trata de suas memórias, sobretudo as dos anos de formação e do convívio familiar, com a mãe Íris, o pai Américo e a irmã Fatima. Descrito pelo autor como um movimento de reencontro com Belo Horizonte e com Minas Gerais, “Campo Alegre” apresenta aos leitores os encantos e os mistérios do cenário em que o escritor foi criado e os personagens que habitaram a sua infância e a sua adolescência. “Sonhei…” é uma rica reunião de textos poéticos, críticos e reflexivos sobre a trajetória de Ricardo, no que ela teve (e tem) de desafios, obstáculos, oportunidades e dádivas.
Sua eleição para a cadeira de número 31 da Academia Mineira de Letras (AML), na sucessão do saudoso Rui Mourão, e sua posse, hoje à noite, em sessão solene, são motivos de alegria e festa. Afinal, nunca será demais celebrar a força da poesia, uma das formas mais complexas e sofisticadas de expressão artística da existência humana.
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