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“Sobrevivendo ao racismo”, de Luana Tolentino

Luana Tolentino é professora de história, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (Neia/UFMG) e colunista da revista “Carta Capital”. Sua estreia em livro se deu em 2018, com “Outra educação é possível: Feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula”, editado pela Mazza. 

Agora, ela lançou “Sobrevivendo ao racismo – Memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil” (Papirus 7 Mares, 175 páginas), dedicado “às crianças negras deste país. A quem sonha, luta e tem esperança”. A epígrafe é assinada por Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo político antilhano: “Luto pelo nascimento de um mundo humano, isto é, um mundo de reconhecimentos recíprocos”. Na orelha, a professora Nilma Lino Gomes destaca que a superação do racismo é uma ação conjunta: “É um movimento que se realiza junto com o/a outro/a, e não individualmente, que pode ser impulsionado pela família negra que valoriza a negritude; por meio da ação de mulheres negras feministas; a partir da contribuição positiva das aulas para o aprendizado de estudantes negros; pelas palavras de incentivo de uma professora ou de um professor ético e responsável; pelo exemplo das histórias de vida de pessoas negras que lutam por um mundo melhor para todos, todas e todes; pelo aprendizado ancestral de que não podemos desistir da luta”.

No prefácio, o escritor Itamar Vieira Junior (autor de “Torto arado”) resume o que os leitores vão encontrar: “A educadora (…) narra sua experiência como mulher negra brasileira. Primeiro como criança periférica, lugar ocupado ostensivamente por pessoas pretas e pardas. Depois como professora e intelectual, dando seu testemunho pessoal de como o racismo pode ser uma máquina de destruir humanos, e com eles suas dignidades e seus sonhos”. Na apresentação, Luana explica sua relação com o ofício de escrever: “(…) o desejo de escrever passou a ser uma espécie de sustento emocional, que me dava ferramentas para suportar a violência racista que eu enfrentava na escola quase que diariamente. Tomando de empréstimo as palavras do antropólogo Muniz Sodré, cada vez que era “marcada moralmente pela opressão sórdida”, intimamente, eu pensava: ‘Aguente, Luana. Fique firme. Sua vida não vai ser assim para sempre.’ Em diversos momentos, a escrita foi a minha salvação”.

Composto por trinta e dois textos escritos entre 2017 e 2022, o volume inclui reflexões  potentes sobre a discriminação racial no dia a dia do país, abordando assuntos que ganharam muita visibilidade na mídia (como o caso Marielle, o assassinato das meninas Emily e Rebecca e a morte do congolês Moise Kabagambe), mas abrindo espaço, igualmente, para o resgate de acontecimentos cruciais na vida da autora, desde a infância já assombrada pelo racismo, como fica explícito nesse trecho: “Infelizmente, o que aconteceu com a menina Luana é muito comum na trajetória das crianças negras. Somos educadas para não expressar nossos desejos, nossos sonhos e nossas potencialidades, para não sentir orgulho de quem realmente somos. Em razão do racismo, somos ensinados a sentir vergonha de nós mesmos. É como se não tivéssemos autorização para acessar aquilo que às pessoas brancas é tido como natural, como a inteligência, a beleza, os direitos, as oportunidades”.

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