Com a palavra os leitores
Cesar Vanucci *
“Sou pobre, mas não orgulhosa!” (Solaia, personagem da distante meninice)
Todos a chamavam, com acento carinhoso na voz, de dona Solaia. Mas seu nome, registrado na pia batismal e certidão do cartório, era mesmo Maria das Dores da Anunciação. Simples, humilde, prestativa, apreciáveis prendas domésticas, exercia com dignidade e elogiável esmero profissional a função de “lavadeira oficial” de um punhado de casas na tortuosa e poeirenta rua do Carmo, Uberaba, naqueles bons tempos de minha meninice.
Vigorosa no andar, sempre ereto, com touca assentada sobre a cabeleira grisalha, utilizada como suporte para as trouxas de roupa, Solaia conquistava todo mundo com gestos gentis e sorriso aberto. Os fregueses encaravam com respeito seus proclamados dons de benzedeira, praticados na base de rezações e cânticos herdados dos antepassados africanos. Dizia-se à boca pequena, que até o dr. Cipriano, médico conceituado, costumava recorrer aos préstimos da Solaia das benzeções num que outro caso complicado, não devidamente resolvido com recomendações no consultório.
Num dia friorento de agosto – lembro-me nitidamente da cena – acompanhei vó Carlota e vizinhos da rua numa visita especial à casa de Solaia. O grupo presenteou-a com um monte de agasalhos e alimentos, “fruto de ação entre amigos”. A lavadeira/benzedeira, tomada de desbordante emoção, agradeceu o gesto de ternura e solidariedade dos amigos com frase que ficou gravada na memória do garoto que acompanhava a avó na visita: – “Sou pobre, mas não orgulhosa. Muito obrigado a todos vancês.”
Recolho ainda, nas ladeiras da memória, fixado na figura de Solaia, as idas frequentes que a garotada da rua promovia à sua moradia nos “Olhos D’água”. Sempre acolhedora, ela franqueava para traquinagens infantis o quintal generoso da residência, atulhado de árvores frutíferas. Empoleirávamo-nos nos galhos da majestosa mangueira da inigualável “manga Sabina” e das jabuticabeiras carregadas de frutos que lembravam bolas de gude com cor de piche.
Mas, falar verdade, do que quero mesmo me valer, neste singelo papo de agora com o culto e leal leitorado, trazendo essas reminiscências em torno de marcante personagem da distante infância, é de sugestivo trecho da frase por ela dita ao receber aquela manifestação carinhosa dos amigos. Confesso-me, talqualmente, “pobre, mas não orgulhoso”. Por essa razão não me acanho em ceder o espaço, aqui e agora, colocando em dia a correspondência, a alguns leitores que, generosamente, entenderam de brindar este desajeitado escriba com registros extremamente simpáticos, ao se referirem a ditos de sua autoria. Os leitores com a palavra.
Acadêmico Danilo Gomes (DC, 24,26,28/06): “Cumprimento-o pelo excelente discurso recebendo na nossa Amulmig o economista, professor, jornalista e escritor dr. Carlos Alberto de Oliveira, autor de monumental obra sobre o grande JK. Gostei da oportuna referência ao bravo, indômito, corajoso Alfredo Marques Vianna de Goes no episódio da posse do grande Juscelino na Academia, em 1972. Eu estava lá, tive essa honra e privilégio que o destino me concedeu. Nós todos tiramos retrato ao lado do sorridente JK, perseguido pela ditadura. Alfredo, “cabra macho” de Curvelo, sim, senhor! Parabéns ao dr. Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, a você e a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais! Abraço do Danilo Gomes, um velho escriba marianense.”
Antônio Manoel Almeida, a respeito do artigo “Tempos Confusos” (DC, 24/08): “A descrição bem-humorada do que vem ocorrendo ajuda-nos a suportar melhor os constrangimentos a que estamos sendo expostos.”
Jornalista Orlando de Almeida (DC, “Cuidar bem da Amazônia”, 27/08): “Caro mestre Vanucci, parabéns pelo conteúdo do texto. Nada a acrescentar sobre qual a atitude que nossos governantes precisam adotar com urgência sobre o que está acontecendo na Amazônia. Sua análise foi corretíssima.”
Acadêmico Jair da Costa, a propósito do artigo “Peregrino do futuro” (DC, 2/07): “Desejo manifestar minha alegria pelo fato de, mais uma vez, toparmos na mesma esquina dos sabores filosóficos. Esse bispo francês, tão aborrecido pelo Vaticano, Pierre Chardin, por não absorver sua visão de Deus, pleno no cosmos por Ele criado, e buscou provar cientificamente a existência do Criador, desmitificando a concepção humana de um Pai distante – faz parte de minhas essências internalizadas na mente prática, a ponto de aconselhá-lo a meu neto Raphael, quase menino ainda, todavia, inteiramente voltado a indagações dessa natureza. Aliás, faz poucos dias, levei-lhe “O despertar dos mágicos, e alguns escritos de Teilhard de Chardin. Agora, mando ao neto seu artigo sobre o grande pensador. Hoje quis manifestar-lhe essa oportunidade oferecida ao querido filósofo-mirim por você. Agradecido, abraço-o fraternamente, Jair Costa”
Manifestação da socióloga Diva Moreira, alusiva ao artigo “Cuidar bem da Amazônia”: “Os temas são maravilhosos. Ando muito triste e abalada com a destruição da Floresta Amazônica. Até minha PA se elevou. Os tempos são tristíssimos e duríssimos. Certamente os assuntos que você está tratando vão ser um alívio para a alma da gente”.
*Jornalista ([email protected])
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