Combater fake news é responsabilidade social das lideranças

Recorro ao termo infodemia, cunhado pelo Prof. Gunther Eysenbach nos anos 2000, que foi preciso ao definir o afogamento de informação circulantes no mundo como uma epidemia. E, a partir desse novo conceito, invoco a todos a refletir sobre um tema que deve ser responsabilidade de toda a sociedade, especialmente dos líderes: as fake news.
A infodemia é frequentemente expressa por meio de notícias falsas, que não foram inventadas por nossas sociedades modernas, mas sempre existiram como uma ferramenta política ou econômica assim que vendem ou mudam a compreensão de um assunto.
A habilidade de notícias falsas é, na maioria das vezes, começar com um fato e transformá-lo para fazer passar a mensagem desejada. A história está cheia de exemplos de desinformação, mas deve ser dito que a partir do final do século 19, certos meios de comunicação conseguiram ganhar reputação como fonte de informação de referência graças à verificação das informações que divulgavam. Isso continua a se aplicar, mas o mundo é muito diferente hoje em dia em termos de acesso à informação através ou com informações on-line e redes sociais. Esta oportunidade se torna um grande risco de manipulação, no qual todos nós podemos ser vítimas.
Hoje, o uso de notícias falsas se profissionalizou e não se detém apenas a grupos específicos. Grandes habilidades criativas e habilidades tecnológicas podem ser vistas em todos os tipos de mídia, sendo os vídeos o vetor preferido de desinformação. Fotos antigas, vídeos com pessoas famosas ou não tão famosas podem ser retrabalhados para transmitir inverdades através de outras vozes.
Durante os contextos eleitorais ou como estamos vivendo em um momento de risco ou de grande questão social como a pandemia de Covid-19 (ou a crise financeira de 2018, a guerra do Iraque etc.), os movimentos de desinformação florescem para expressar medos ou manipular mentes por meio de certas leituras da realidade que não estão em fase com os mundos da ciência, da academia, da imprensa e até mesmo da política para alguns.
São realizados estudos sobre estes movimentos, frequentemente descritos como teóricos da conspiração, que já não acreditam ou nunca acreditaram nas interpretações da realidade por parte das instituições em vigor que representam um mundo institucionalizado do conhecimento. Esses mesmos teóricos da conspiração são, às vezes, utilizados por atores políticos, como já foi visto nas eleições presidenciais na África.
O exemplo das eleições presidenciais em Uganda ilustra a complexidade da leitura dessas desinformações envolvendo a um certo nível o Gafam e, em particular, neste caso, ainda chamado Facebook que fechou certas contas porque estava preocupado com essas desinformações e era ele mesmo ameaçado de acesso ao país. Naturalmente, o pior exemplo dos últimos anos é o exemplo da disseminação de notícias falsas para curar a Covid-19 indicando, por exemplo, beber etanol para evitar Covid. O Irã, sem um certo background cultural, infelizmente teve muitas mortes relacionadas a esta desinformação.
As fake news estão se tornando um mal dominante em nossas sociedades, enquanto poderíamos ter grandes esperanças graças à primeira dinâmica de democratização da difusão de informações e conhecimentos, graças ao acesso generalizado à internet.
Então, como podemos combater essa desinformação respeitando o direito democrático de se expressar? O assunto é complexo e não pode ser resolvido em poucas frases. Como reitora de uma instituição de ensino superior que acolhe muitos jovens, penso na educação como caminho para formar cidadãos críticos e que também não apenas leiam de forma competente as informações divulgadas, mas que sejam também construtores de uma sociedade mais engajada e menos manipulável.
Para tal, a educação digital deve estar nas empresas, nas escolas, nas universidades, nas discussões familiares. É preciso dedicar tempo ao aprendizado tecnológico de ferramentas digitais, acrescentando o ensino sobre culturas da informação, incluindo o que já é feito sobre pesquisa de informação e a capacidade de usar este trabalho em uma análise crítica da produção de conhecimento. E, finalmente, introduzindo de forma mais adaptada a este universo de redes sociais. Não apenas treinamento sobre mídia. E sim uma ampla construção de técnicas de validação da informação com dimensões éticas e culturais por meio do pensamento disruptivo. E os líderes estão implicados nesse processo.
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