Como “esmagar” o Covid-19

Cesar Vanucci*
“Nós poderemos fazer em dez semanas!” (Conclusão de um trabalho científico estadunidense que aponta medidas para o enfrentamento da pandemia)
Contando com a indulgência do distinto leitorado, rogo permissão para substituir, hoje, neste acolhedor espaço, minhas singelas e habituais ruminações sobre coisas do trepidante cotidiano pela prescrição de um trabalho científico sobre o malsinado Covid-19. Como deplorado, um dos surtos letais que presentemente nos assolam.
O outro é a atordoante incompetência e irresponsabilidade que grassa nos arraiais políticos brasilienses. O trabalho em questão enfeixa recomendações de notório interesse público. Foram formuladas por órgão científico conceituado. A revista estadunidense “The New England of Medicine” sugere às autoridades de seu país “seis passos para esmagar o vírus” (o corona). As medidas, de validade universal, vêm alinhadas na sequência.
“1) Estabeleça um comando unificado – O governo deverá surpreender seus críticos e apontar um comandante que responda diretamente a ele. Essa pessoa precisa ganhar a confiança do povo. O comandante teria poder e autoridade para mobilizar qualquer recurso necessário para ganhar a guerra e pedir para cada governador apontar um comandante estadual com autoridade similar.
2) Disponibilize milhões de testes diagnósticos – Nem todo mundo precisa fazer teste, mas todo mundo com sintoma, sim. É preciso preparar milhões de testes em duas semanas. Essa foi a chave do sucesso da Coreia do Sul. Sem testes não há como traçar o escopo da epidemia. Use maneiras criativas para mobilizar laboratórios de pesquisa a oferecer testes e encaminhar pessoas com testes positivos para avaliações médicas.
3) Fornecer equipamentos de proteção individual e equipamentos para o tratamento de pacientes graves, como ventiladores – Oferecer equipamentos de proteção para cada profissional da saúde na linha de frente do cuidado aos pacientes e na testagem deve ser o padrão. Não mandamos soldados para a guerra sem uniforme adequado; profissionais de saúde nessa guerra não merecem menos que isto. Diga-se o mesmo para ventiladores e outros equipamentos de que os hospitais mais precisem.
4) Separar a população em cinco grupos – Precisamos saber: a. Quem está infectado; b. Quem está possivelmente infectado (pessoas com sintomas sugestivos, mas com testes negativos); c. Quem ficou exposto; d. Quem não sabe que foi exposto ou infectado; e. Quem se recuperou da infecção e está imune. Análises de sintomas e testes vão ajudar a identificar quem pertence aos quatro primeiros grupos. Crie enfermarias para casos leves e moderados, e interne pessoas em estado grave ou de maior risco. O isolamento para todos reduz a transmissão para familiares. Crie centros de quarentena para abrigar os que se expuseram ao vírus, e os separe da população por duas semanas. Para identificar o quinto grupo é preciso desenvolver testes com base em anticorpos, o que pode mudar o cenário na hora de restabelecer a economia.
5) Inspire e mobilize o público – Todos têm que fazer sua parte. Esforços em pesquisas, testes, mídia social e inteligência artificial devem ser intensificados. Depois que todos os profissionais tiverem as máscaras que necessitam os Correios e empresas privadas poderiam entregar máscaras e álcool em gel para todas as casas. Se todos usarem máscaras ao saírem, os pré-sintomáticos e os infectados terão menos riscos de passar a infecção.
6) Aprenda em tempo real com base em pesquisas – Os cuidados clínicos melhorariam muito com tratamentos eficazes e toda opção plausível deve ser investigada. Médicos precisam ter parâmetros melhores das condições dos pacientes para saberem quem pode ter o quadro agravado mais rapidamente. As decisões sobre a reabertura devem ser tomadas com base em ciência, em dados sobre quantos foram infectados e estão imunes. Se o país agir imediatamente poderá declarar vitória contra o coronavírus já na comemoração do “Dia D”, 6 de junho.”
Os autores do trabalho cuidam de esclarecer que seu objetivo não é “achatar a curva”, mas, sim, “esmagar a curva da Covid-19”. Lembram: “A China fez isso em Wuhan. Nós poderemos fazer isso em dez semanas.”
*Jornalista ([email protected])
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