Opinião

Corresponsabilidade Institucional

Corresponsabilidade Institucional

Sidemberg Rodrigues*

Uma das melhores consequências da implementação do Modelo 6D de Sustentabilidade nas empresas é sua influência na expansão das visões. Foi assim que nasceu a metodologia da Corresponsabilidade Institucional, o pulo do gato da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) na nova concepção de desenvolvimento sustentável. Aqui, rememora-se a ideia de se evitar o paternalismo e a eterna dependência dos mais vulneráveis por fontes financiadoras. Isso pode requerer o aparo definitivo de arestas nos sistemas de atendimento social favorecendo seu bom funcionamento.

Quando uma empresa descobre-se inserida em um tecido social – que é o conjunto de instituições e pessoas em um território geográfico e social – ela se dá conta de que qualquer forma de negócio depende do grau de desenvolvimento local e da qualidade das relações com o mundo externo. Isto definirá o ambiente de que ela desfrutará para fluir com harmonia e extrair dali seu lucro – que é responsabilidade social primeira diante das exigências do atual estágio do capitalismo. Verdade seja dita, qualquer negócio somente se instala, opera e prospera em um tecido social saudável.

Uma empresa encontrará grandes obstáculos se estiver em uma região marcada por altos índices de violência; reincidências epidêmicas; falta de fluência logística ou de mão-de-obra; carências educacionais ou profissionalizantes; precariedade hospitalar e de infraestrutura em geral. Por isso, o mundo corporativo se deu conta de que um ambiente saudável permite maiores vantagens – até mesmo competitivas. Contribuindo com o aprimoramento sistêmico da sociedade, a empresa expande sua própria noção de negócio, além de colaborar com o desenvolvimento de seus próprios mercados.

O fortalecimento institucional das demais entidades pela melhoria de suas gestões é uma alternativa promissora porque favorece o equilíbrio da rede social com maior qualidade dos serviços prestados. A estratégia da Corresponsabilidade Institucional, que é o comprometimento da empresa com o bom funcionamento das demais instituições, também fortalece a reputação, pois as partes interessadas no negócio dar-se-ão conta de que, além de gerar riquezas na forma de empregos e impostos, ela é, adicionalmente, um membro socialmente ativo. E isso é menos caro que apoios sociais eternos, reféns dos impactos que qualquer negócio possa causar.

Programas sociais com focos pontuais podem até ajudar, mas transformador mesmo é fazer intervenções sistêmicas por meio de metodologias e tecnologias sociais para o aprimoramento definitivo das instituições e gestões, além da transferência de boas práticas aos demais elos da rede. Os ganhos serão em escala, pois sanadas as ‘causas’ que motivaram as intervenções, desaparecerão as respectivas ‘consequências’ – onde habitualmente limitam-se muitas iniciativas sociais, que “enxugam gelo”.

Essa é a inovação: a empresa deixar de ser apenas uma apoiadora financeira para atuar como polo ativo até na aproximação de elos e no debate para a construção de um real estado democrático de direito. Contribuindo intelectualmente com a difusão de ideias; com a integração de metodologias, tecnologias e com o aprimoramento da gestão do Primeiro e do Terceiro Setores. Assim, passa-se a atuar na gênese dos problemas e não mais nos resultados da má gestão, da corrupção e outros desvios, refletidos nos diversos dilemas sociais de nosso tempo.

Ministrando palestras, apoiando obras acadêmicas de alcance sistêmico, dando suporte a debates focais – e entrando neles, ajudando a difundir uma consciência sustentável e, finalmente, encorajando cidadãos a migrarem do status de clientes sociais para protagonistas da própria história. O estímulo ao voluntariado, inclusive de especialistas da própria empresa, assim como de seus familiares, também poderá afluir para a espiral virtuosa que se forma à medida que se compartilha saberes e se aprimora processos. Construindo pontes de desenvolvimento entre polos de excelência e demolindo muros que limitem o pensar coletivo, constrói-se a base para se transformar o amanhã.

*Conferencista, articulista e professor de Sustentabilidade, Gestão e Integridade em cursos MBA. Autor dos livros: Espiritual & Sustentável (sustentabilidade em 6 dimensões); Complementaridade (gestão sustentável) e Miséria Móvel (crítica social). Contato: [email protected]

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