CPI para que, senadores?

O futuro dirá! Com a palavra os ilustres senadores da República! Não acredito que a CPI do Senado Federal analisará, em profundidade, a relação do bolsonarismo com as três forças que o sustentam: os evangélicos, o Exército e parte das elites econômicas, que se têm beneficiado das ações governamentais (aumentou o número de bilionários durante a pandemia).
Essa tríplice relação é fundamental para se entender o Brasil e suas questões de fundo hoje. Sobretudo se a CPI objetivar a correção necessária para alcançar aquilo que foi o orgulho da Grécia, a Democracia, além da República, que os romanos inauguraram, como a quinta essência do grandioso Império. Democracia e República tão conspurcadas no Brasil de hoje!
Não que Omar Aziz (AM), Randolfe Rodrigues (AP), Renan Calheiros (AL) e os ilustres senadores da CPI não sejam capazes de operar uma transformação tão radical. Mas por duas razões:
1) Há senadores confiáveis que ouvem o povo brasileiro, mas a instituição Senado tem se mostrado pusilânime diante da matança do vírus, do retrocesso e do obscurantismo, da nau sem rumo que virou Pindorama, sem planejamento econômico e dispensando o Censo para diagnóstico do enfermo.
2) Não se transforma uma sociedade sem interferência das forças sociais que estão na base da pirâmide. E não vejo nas instituições brasileiras, hoje, partidos políticos, governos, parlamentos, câmaras, Senado e assembleias, voz e força para mover historicamente as massas humanas vilipendiadas pela pandemia e desprezadas, como ovelhas sem Pastor. Estamos indo para a barbárie, para o fundo do poço, mais fundo que nas pestes medievais.
A Civilização e Espiritualidade terão de amadurecer uma nova maneira de se relacionar com os donos do Poder, se quiserem marcar presença na caminhada histórica humana e na restauração do Universo criado. E deve ser uma relação mais profunda do que a do Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e outras crenças tentaram construir, como instituições.
Para ficarmos mais no nosso terreno, durante 300 anos após a Ressurreição, os seguidores de Jesus conseguiam vivenciar os valores evangélicos do Carpinteiro de Nazaré, na revoltada região da Galileia. Com o advento de Constantino, o amor esfriou e o Cristianismo fraquejou perdendo sua luz e a força de sal. Cidadãos espiritualistas e místicos da época se viram apequenados, incapazes de viver o evangelho em Roma ou Constantinopla. É quando nascem os Padres da Igreja, do Oriente e do Ocidente, optando por resguardar o ser cristão no “deserto”.
E durante séculos, cristãos romanos vão se misturar indevidamente com o poder terreno do Império Romano e outros tronos. E os ortodoxos, com o santo poder das Igrejas sujeitas a Constantinopla. Os bolsonaristas buscam o mesmo que romanos e ortodoxos buscaram junto às hierarquias de suas Igrejas.
A partir de 1470, com Lutero e outros, o evangelismo também cresce no mundo. E em numerosas nações vai correr atrás do poder, da fama e da ilusão de construir o Reino de Deus ao somar com os donos e construtores da cidade humana.
No Brasil, Bolsonaro eleito presidente e batizado no Jordão proporciona aos evangélicos, especialmente os pentecostais e carismáticos, um alívio às perseguições e preconceitos dos católicos romanos contra os seguidores de Lutero.
Na minha terra natal, no Vale do Rio Doce, os embates entre católicos e protestantes acabavam ganhando a aparência de ser uma encrenca entre capixabas e mineiros. Só não era aparente, quando o vigário que me batizou, descia a ladeira da matriz para chicotear o pastor, que pintou na cidade batizando nova-erenses filhos de São José da Lagoa nas águas do Piracicaba.
Esse escriba acabou escrevendo uma crônica, com um conteúdo que não prima em termos de “ciência política”, mas é fruto simplesmente da experiência existencial de 58 anos de vida política, na clandestinidade, na semi e na legalidade, quando o homem e Deus operam juntos.
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