Opinião

Da reforma das reformas

Stefan Salej*

Provavelmente a maioria dos nossos leitores não anda de ônibus ou metrô, seus filhos estão na escola privada, não usam SUS e nem vão ao INSS, ou usam qualquer serviço público à disposição do cidadão. Talvez o famigerado Detran, mas mesmo assim mais através de despachante. Aliás, o que seria dos ricos no Brasil sem despachante. Ou sem o “sabe com quem está falando?” Sempre temos um colega ou parente no serviço público que ajuda a resolver e quebrar galho. Bem, tem serviço público na área de fiscalizações, impostos e similares que o empresário, e aí no lugar do despachante entra o advogado, sente na pele e sabe onde fica.

Em resumo, serviço ao público ou serviço público na sua maior dimensão é mais perceptível para certas classes sociais do que para outras. Sendo que temos ainda outra dimensão do nosso serviço público que é a multidão de terceirizados. Quem inventou isso deveria ser canonizado. Deve ser para não aumentar o número de funcionários públicos. Aí se contratam empresas privadas que vendem mão de obra por preço mais baixo, mas sem treinamento e a supervisão necessária. E justamente na maioria dos casos este é o pessoal que representa a autarquia no seu relacionamento com o cidadão. Aliás, serviço público é serviço ao cidadão.

Não nos esqueçamos dos concursos, porque somos um país democrático e a oportunidade para entrar no serviço público é igual para todos. Aí, depois de dez concursos em áreas mais difíceis, o cidadão conseguiu passar num, mas quando entra, depois de muita espera, não há recursos para treinamento. Ou entra numa função que nada tem a ver com seu perfil psicológico ou a sua vontade de trabalhar. Queria ser delegado de polícia mas virou recepcionista do INSS porque foi lá que passou no concurso.

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Não vamos falar dos equipamentos usados nas áreas públicas. Carros sem gasolina, hidrantes sem água, computadores do século passado.

Os candidatos falam e falam o que vão fazer, discutem os salários do funcionalismo, mas ninguém mesmo disse qual é o projeto de reforma de gestão do Estado. Aliás, o mesmo vale para os candidatos a governadores e prefeitos, que estão no cargo e não fazem nada. Sem essa reforma, que deve incluir os poderes Legislativo e Judiciário, o cidadão brasileiro continuará em condição de miséria no seu atendimento pelo Estado. E tem mais: mesmo com alguns avanços no uso de tecnologia, estamos longe de aproveitar todo o potencial. A reforma deve ser essencialmente reforma de gestão administrativa e dar oportunidade de atualização aos funcionários.

Muita coisa boa existe. Inclusive pela Escola Nacional de Administração Pública. Muitos serviços funcionam bem, mas longe do que o País precisa para melhorar a vida do cidadão e a sua competitividade como um todo.

* Ex-presidente do Sebrae Minas e da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e cofundador de Minas em movimento

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