Da ressaca democrática
Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, perdeu. As eleições são simples assim. Mas, nas deste ano, todas as análises no dia subsequente não têm a mínima importância. Não é por causa de segundos turnos, mas porque a complexidade criada no cenário político brasileiro após estas eleições só é superada pelo período pré-eleitoral. Esta transição que vivemos, de um modelo político distorcido para um novo modelo cujos contornos estão em formação, é um misto de incerteza, medo, receio e otimismo que nos leva a mais incertezas.
Comecemos pela eleição de parlamentares em todos os níveis, que representam tudo com exceção de alguma mudança no modelo político que nos trouxe para esta crise ao mesmo tempo política, econômica e sobretudo social. Nada mudou. E ninguém disfarça. As cabeças do desastre, de alianças espúrias, de cargos com porteiras fechadas para benefícios ditos partidários, mas na realidade pessoais, continuam no cenário parlamentar rindo na nossa cara, dizendo: o povo nos escolheu. Isso é democracia.
O povo brasileiro, do qual 30 milhões não têm emprego ou estão subempregados, e com 11 milhões que ainda não sabem escrever e ler, sem falar nos que não têm água, esgoto, moram em favelas e seus filhos não têm escola, é que elege. E esses políticos, na verdade, de boca cheia, falando de saúde, educação e emprego, trabalharam nos últimos 16 anos para manter esse estado de coisas, para poder manipular e se reeleger de novo. Nós não temos políticos falando de forma clara e honesta, forças políticas que têm nestes anos trabalhado para que diminua a ignorância do eleitor e aumente a sua inserção social. Quanto mais ignorante e dependente de ações sociais do estado permanece o eleitor, mais feliz fica o político no poder.
O paradoxo de nossa democracia também é a quantidade de candidatos. É espantoso seu cinismo, vendendo ao eleitor algodão-doce que na hora de comer se transforma em jaca. É estarrecedora a falta de conhecimento dos reais problemas que os eleitores enfrentamos. Nesse mar de ignorância há exemplos de todos os tipos. E a maior delas todas é o deputado Tiririca, que ri na nossa cara dizendo que nos enganou porque, ao contrário do que havia anunciado, é candidato de novo e não vai renunciar a uma boca boa dessas de ser político.
Quanto tempo o País aguenta esse modelo e se a divisão, com ódio crescente entre as classes sociais, que esta eleição provocou, vai crescer, só os dias que vêm vão mostrar.
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Vamos precisar de muita paciência para que o segundo turno, que dizem ser uma nova eleição, talvez traga mais debates, mais projetos, mais discussões e um futuro menos sombrio. Não no final de contas dizem que Deus é brasileiro. Está na hora de acreditar nisso.
* Empresário, ex-presidente do Sebrae Minas e da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
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