Opinião

Daniel Silveira e o bolsonarismo

Daniel Silveira e o bolsonarismo
Bolsonaro | Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O caso Silveira, cujo protagonista, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), agora conhecido pela Nação inteira, tornou-se o centro do discurso da política nacional.

Isso era inevitável, dada a gravidade das palavras, dos gestos e atos deste ex-policial, atacando o STF e pedindo a volta do AI-5, o qual resolveu “brincar”, fora de todo bom senso, sem compostura e educação, sem sentido patriótico, com temas explosivos, entrando numa briga de cachorro grande.

A inevitabilidade de uma ampla repercussão no mundo político, nas mídias e na sociedade em geral não nos exime, os democratas brasileiros conscientes, de evitar fazer deste cidadão, o “bode expiatório”, do que sofre hoje a Nação e o nosso povo.

É dever nosso saber aprofundar o significado dessa prisão, no contexto da conjuntura político-econômica do Brasil, dos problemas que enfrentamos, com ares de insolúveis e que parecem eternos, dada a letargia com que são tratados pelo governo federal.

Se um ex-policial, transformado em deputado federal pelas urnas na onda Bolsonaro de 2018, não pode ser considerado por seus crimes, reconhecidamente comprovados, o fator primeiro da tragédia que se arrasta com o povo brasileiro, por outro lado, é inegável que ele era um subproduto do bolsonarismo, hoje protagonista.

Significativo o silêncio do presidente da República! E mais ainda a defesa incisiva e robusta de Silveira feita por uma parte expressiva do Centrão. Aliás, essa mudança em curso, atabalhoada na presidência da Petrobras, não deixou de ser, na prática, um desvio da atenção da mídia e da opinião pública em geral, fazendo sombra ao caso Silveira, outro fato que não pode ser minorizado, na política, na mídia e na sociedade.

O centro do discurso da política nacional deveria ser a qualidade e eficiência de nossa resposta ao coronavírus, à grande crise que se arrasta antes e durante a pandemia, a inércia e incompetência do ministro da Saúde, o crescimento da mortalidade, a novela das vacinas insuficientes e a falta de um planejamento científico e eficaz da vacinação, a continuidade do auxílio emergencial e as eternas reformas que nunca acontecem.

Esse escriba teve a chance e a graça de morar e viver, nos anos 60, no Oriente Médio, com palestinos, judeus e jordanianos. E no início desse século, com os cubanos. Hoje, de longe, vejo com saudades, Israel e Cuba vacinarem os dois povos, graças a uma vontade coletiva de agir e viver e à competência de seus líderes políticos de campos ideológicos diferenciados na condução responsável de seus concidadãos.

Às vezes, os chargistas e humoristas conseguem captar melhor e ironizar o caos e os absurdos que dele emergem. Zé Simão cobrou de Silveira a contradição em pedir a volta do AI-5 e invocar a liberdade de expressão na defesa de si mesmo. Outro lembrou a destruição da placa Marielle Franco e o fato dela hoje mirar lá das estrelas, o governador Witzel “impeachmado” e o deputado ex-policial, preso. (Num segundo artigo comentaremos a idolatria das “instituições”, em detrimento do foco na realidade dantesca do Brasil).

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