Dê um ESG em sua empresa… em sua vida!

Esta é a convocação da hora: dê um ESG em sua empresa, dê um ESG em suas relações com todos o tempo todo – familiares, colegas de trabalho, amigos, vizinhos, lideranças políticas que buscam o seu apoio e voto. Enfim, dê um ESG geral e humanize suas atitudes. Ao agir assim, você – empreendedor, executivo, profissional autônomo, professor, consumidor, político, pai, mãe, filho – concretiza a sua necessária e decisiva contribuição para a consolidação de um novo modelo de vida e, portanto, ajuda a melhorar a vida dos outros, preservar o planeta e a construir uma sociedade mais humana e fraterna.
Que letrinhas tão poderosas são estas? Com tamanha difusão nos últimos meses, acredito que a sigla seja conhecida de todos. Ela sintetiza a expressão “Environment, Social, Governance”. No português, “Ambiente, Sociedade e Governança”. O que isso significa? Em essência, é um jeito novo de dizer que é cada vez mais necessário subordinar as atividades de produzir e de consumir a princípios e valores que respeitem a dignidade das pessoas, o meio ambiente, as relações em sociedade e suas legítimas necessidades e aspirações, bem como à governança que rege a gestão das empresas e de tudo que elas produzem.
É, igualmente, uma nova forma de dizer, com muita ênfase, que não são mais sustentáveis, nem aceitáveis, produção e negócios orientados exclusivamente para o lucro. É, ainda, um insistente alerta de que produção e negócios precisam cuidar das pessoas, do desenvolvimento sustentável, atuar com ética, cumprir as leis (compliance) e prestar contas com transparência. A sigla ESG foi cunhada em 2004 pela ONU, numa provocação do então secretário-geral, Kofi Annan, a cinquenta presidentes de empresas. Ganhou notoriedade nos últimos anos, a partir de Larry Fink, presidente da BlackRock, a maior gestora de ativos financeiros do mundo. Ao emitir cartas anuais para os executivos das empresas nas quais a BlackRock investe, o recado era claro: se não cumprirem esta agenda, o fluxo de recursos pode ser interrompido ou mesmo retirado. Era a entrada definitiva do mercado e do mundo financeiro nesta agenda, o que teve um impacto muito significativo para o tema.
No entanto, na verdade e na prática, os assuntos trazidos pela agenda ESG não é uma novidade. Embora relevante e oportuna, trata-se de uma nova embalagem, para recolocar em pauta um tema mais que centenário, nascido a partir das preocupações da Igreja Católica, na segunda metade do século 19, quando as inovações e as novas tecnologias começaram a mudar o jeito de produzir bens e serviços e também a reorganizar as relações de trabalho, em uma revolução que não parou mais. Nós, da ADCE, ficamos felizes em acompanhar esta “linha do tempo”, pois o objetivo norteador da nossa entidade, fundada há mais meio século, em 1961, sempre foi o de transmitir aos líderes empresariais princípios e valores que nos foram legados pela Igreja Católica, de forma a que os empreendedores possam tomar decisões fundamentadas não apenas no retorno financeiro, mas, também, nos impactos sobre o ser humano e o meio ambiente.
Voltando no tempo, desembarcamos em 1891, ao Papa Leão XIII e a sua Encíclica (Carta Circular) Rerum Novarum (Das coisas novas), que traduzia e atualizava os ensinamentos cristãos para a época, iluminando e oxigenando a economia com luzes e ares diferentes. Com coragem e visão, o Papa Leão XIII já identificava, ali, problemas nos dois modelos econômicos que surgiam e atentavam, ambos, contra a dignidade das pessoas: o capitalismo, que promovia a liberdade de empreender, apresentava graves desigualdades e injustiças; e o socialismo, que pregava e buscava a igualdade e a justiça, inibia a livre iniciativa e violava o direito à liberdade.
De lá para cá – 130 anos – o Vaticano emitiu dezoito Encíclicas sociais, em média uma a cada sete anos, que tratam da economia, trabalho, ecologia e da vida em sociedade. As mais recentes são Laudato Sí (Louvado seja), de 2015, e, no final de 2020, a Fratelli Tutti (Todos irmãos), ambas do Papa Francisco, mostrando que a agenda centenária está cada vez mais contemporânea.
Na verdade, embora não inove em seus objetivos centrais, a agenda ESG traz como novidade de relevância fundamental as circunstâncias em que ela ocorre. Em primeiro lugar, a recorrência, amplificação e consolidação do tema mostram não se tratar de modismo passageiro, mas, sim, de movimento que avança e continuará a avançar. Indica, igualmente, tratar-se de movimento que sensibiliza, mobiliza e engaja a sociedade mundial e não apenas setores isolados, como se imaginava no passado. E, fundamental, a agenda ESG entra em pauta em um cenário de democratização da comunicação potencializado pelos meios digitais e possibilitando à sociedade – em todos os níveis e em todas as regiões do planeta – acompanhar e cobrar posições coerentes com as demandas do século 21. No último dia 04 de junho, entramos na “Década da Restauração do Ecossistema”, movimento lançado novamente pela ONU, e que foi reforçado pela mensagem do Papa Francisco: precisamos reverter as disfunções do sistema econômico para que atenda às dimensões humana e ecológica. Sejamos restauradores de nós mesmos, das nossas vidas, da vida das pessoas e da natureza. O resultado efetivo desta revolução virá da nossa consciência, de uma conversão pessoal, de dentro para fora, do individual para o coletivo, com crenças e valores que superem o individualismo, a indiferença e o egoísmo. Quem viver e praticar colherá bons frutos e criará um futuro mais promissor para todos. Comece hoje! Dê um ESG na sua vida.
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