Opinião

Desaceleração do ritmo de vacinação

Desaceleração do ritmo de vacinação
Crédito: Gil Leonardi / Imprensa MG

Vivemos um processo de restrição da vacinação, ou um caminhar extremamente lento, que é resultado da compra de vacinas que foi retardada pelo Ministério da Saúde. A ausência desses imunizantes nos dois últimos meses de 2020 e nos primeiros de 2021 foi responsável por uma crise sanitária muito grave, com muitos óbitos e adoecimentos, que ecoam até hoje. O Órgão tem uma logística muito falha para esse processo, e nós temos acompanhado isso; na medida em que as vacinas foram disponibilizadas, a população aderiu rapidamente à vacinação.

O problema no Brasil nunca foi a restrição da vacina por negacionismo de parcela da população – este é um comportamento quase desprezível do ponto de vista numérico. A grande dificuldade que acaba sustentando o discurso negacionista é, de fato, a falta de vacinas.

Esta questão tem alguns fatores. Primeiro, o estrutural. O processo de vacinação é um projeto que, em um país continental como o Brasil, deve ser realizado a partir de um planejamento cuidadoso para a operação dos imunizantes. Por isso trata-se de um sistema muito eficiente e reconhecido mundialmente. É um planejamento normalmente feito em conjunto pelo governo federal, os Estados e os Municípios, que definem quais vacinas serão aplicadas, qual a quantidade que deverá estar disponível e quais são os recursos necessários para isso – insumos como seringa e agulha – e pessoal treinado, já qual algumas substâncias exigem técnicas diferentes de aplicação. 

Esse processo tem uma longa preparação. Esse é um dos itens do planejamento nacional, e é isso que fez do nosso Programa Nacional de Imunizações (PNI) referência internacional, e mostra sua efetividade.

Esta forma que o governo teve – inspirada nos seu próprio negacionismo – de não comprar vacinas oportunamente e, quando comprou, ter entregas escalonadas muito lentas e com interrupções sucessivas, acabou desorganizando o processo de trabalho na ponta. Isso diz respeito tanto à vacinação nas grandes cidades, com milhões de pessoas, como também nas cidades remotas, onde o imunizante é aplicado por equipes que vão de barco, a pé ou de bicicleta até os locais, enfrentando às vezes condições adversas para vacinar.

Essa rede de unidades vacinadoras, que ultrapassa o total de 40 mil no País, tem um trabalho que exige muita organização e programação. Quando a vacina chega, é necessário ter toda uma equipe preparada com profissionais, equipamentos, materiais e transporte para chegar até as pessoas. Se esse trâmite é interrompido porque a vacina acaba, todo o processo é desmobilizado e precisa ser reorganizado quando a vacina volta. Isso tem sido um ônus muito grande para os Estados e, principalmente, para os Municípios. Porém, eles têm dado conta.

Então, o ritmo de vacinação não está ditado pela capacidade de imunização dos municípios. Está sendo ditado pela disponibilidade de vacinas, que é uma responsabilidade estritamente federal. No sistema do SUS de financiamento e atribuições, cabe ao governo federal a compra nacional, centralizada pelo PNI, e sua distribuição para as cidades. 

O Brasil tem tradicionalmente um ritmo de vacinação e uma aceitação muito melhor do que os países da Europa e dos Estados Unidos. Portanto, só não vacinamos mais rápido por indisponibilidade. Seja porque faltam doses, ou porque as interrupções no suprimento de vacinas criaram problemas para as cidades administrarem as aplicações. E aplicar o imunizante não é só colocar a agulha no braço. É organizar equipes, e o que é ainda mais fundamental: o governo federal e os governos estaduais e municipais poderiam estar fazendo campanhas publicitárias sobre vacinação, direcionadas e que esclareçam a população. 

É preciso, ainda, chamar à responsabilidade os Estados e Municípios que têm mecanismos para fazer a busca ativa das pessoas que não foram vacinadas. Essa busca pode ser feita por moradia, pelo cadastro das pessoas, e por locais de atividade de trabalho. A restrição de acesso em lugares coletivos e de trabalho para pessoas não vacinadas são medidas sanitárias que também ajudam nesse processo.   Portanto, o negacionismo no Brasil só existe de autoridades, em sua maioria, federais. É pouca gente. A maioria das pessoas se vacina e querem se vacinar. Só precisam da oportunidade e da informação da vacina.

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