Opinião

Descarbonização da economia mineira até 2050

Descarbonização da economia mineira até 2050
Foto: Reprodução Adobe Stock

Antônio Nahas*

O Governo de Minas deu um passo muito importante em relação à construção de um futuro de sustentabilidade para o Estado de Minas Gerais, que nos coloca em nível de igualdade com as grandes economias mundiais que estão envolvidas na reconversão energética das suas nações.

Ao elaborar o Plano Estadual de Ação Climática e propor a descarbonização até 2050, Minas tornou-se o primeiro Estado da America Latina e Caribe a aderir a esta meta, tornando-se referência na América Latina e no mundo.

O Plano é ambicioso e visa tanto o aumento das ações de sequestro de CO2 na atmosfera, pelo plantio e aumento das áreas verdes, como a diminuição de emissões daquele gás. Assim, mesmo que haja ainda emissão de CO2, as emissões líquidas de CO2 serão neutras.

E a jornada até 2050 será árdua. Atualmente, Minas emite mais de cento e vinte e seis milhões de toneladas de gases efeito estufa. A maioria das emissões vem da agricultura e florestas, (51%), seguido do setor energético (26%)  e indústria (18%).

Na agricultura, a fermentação entérica do rebanho bovino é o grande vilão, seguido das mudanças do uso do solo, que implicam em desmatamento de áreas, o que diminui o sequestro de CO2 na atmosfera. Na contrapartida, o inventário de dados apresentou aumento do sequestro de carbono proveniente  da preservação dos biomas da mata atlântica e cerrado.

No setor de energia, a mobilidade urbana e o uso de gasolina e diesel nos transportes de carga representam o grande desafio a ser vencido nas rodovias e estradas. As grandes cidades terão que fazer uma importante transição para o uso de meios de transporte que não utilizem energia fóssil. As cidades terão que se transformar, entre outras razões porque são nelas que se fazem e farão sentir os grandes impactos da mudança climática. O Plano cita de forma elogiosa a Política de mobilidade para a região metropolitana do Vale do Aço, que prevê investimentos e integração dos diversos sistemas de transportes.

De uma forma feliz, o documento do governo do Estado introduz o conceito de justiça climática: os setores sociais que menos contribuem para a emissão dos  gases efeito estufa são e serão aqueles que mais sofrerão com seus efeitos, pois são aqueles estão sujeitos a inundações; elevação dos preços dos alimentos e demais consequências dos eventos climáticos.

Na indústria, o setor de aço e ferro-gusa se mostrou como aquele que mais contribui para o aumento das emissões. Como se trata de um setor importante na economia mineira, mudanças importantes deverão acontecer.

Para atingir as metas previstas, foram apresentadas diversas ações importantes relacionadas à agricultura, energia, resíduos sólidos, indústria Gestão de risco de desastres e vulnerabilidade climática, povos e população vulnerável, biodiversidade e ecossistemas, Desenvolvimento sustentável e Ação Climática.

Este último item é o mais importante e contém os dilemas para implementação de um Plano tão importante, por um prazo tão longo. Contem os subitens: promover a disponibilidade de recursos financeiros para implementação do Plano; promover a governança climática estadual;  a diversificação da economia do estado;  a educação ambiental e o turismo sustentável em Minas.

Enfim: sair do mundo das ideias e partir para a ação. É um desafio um tanto maior uma vez que os governos não são permanentes e a continuidade poderá depender da vontade política dos futuros governantes.

A solução para isso seria a apropriação de ideias tão importantes e valiosas pela sociedade e a instituição de uma Governança para sua implementação, independente do Estado de Minas e com sua participação. A definição de recursos públicos e a sua compatibilização com as metas de planejamento do Estado também seriam fundamentais.

O plano implica em grandes mudanças na estrutura econômica, na malha de transportes e na organização das cidades. Sem a participação ativa da sociedade, dificilmente os objetivos serão alcançados.

* Economista, especializado em gestão financeira. Fundador, Presidente e diretor de Sustentabilidade da NMC integrativa.

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