Opinião

Desenvolvimento de pessoas e o legado da liderança

Desenvolvimento de pessoas e o legado da liderança

A minha relação com o tema “Liderança” surgiu no primeiro ano da faculdade de Ciência da Computação, em agosto dos anos 2000. Havia acabado de sair do ensino fundamental, indo direto para a universidade e buscando minha primeira interação com o mundo corporativo. Como filho de servidores públicos, minha relação com empresas – principalmente as da iniciativa privada – era muito superficial, para não dizer nula. Mal sabia eu que seria através delas que iniciaria ali uma grande jornada de liderança.

No início da graduação, estava inseguro e, de certa forma, desconfortável com as primeiras interações com os colegas. Ainda não sabia como explicar ou sequer entender, mas ser um especialista em tecnologia não era o que me motivava. Apesar de entusiasta da tecnologia, aquilo não parecia fazer muito sentido para mim. Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de que a grande maioria optou pelo curso de Computação por ter mais interação com as máquinas, e menos com pessoas. Aquilo me colocou em xeque.

Veio o primeiro estágio, totalmente fora da área de TI, onde vivenciei um pouco das dinâmicas empresariais e a relação de hierarquia e poder. Sempre tive dificuldade em entender essas relações por acreditar e defender mais as construções colaborativas. Esse conflito ainda é bem latente em mim, confesso.

Depois, o primeiro emprego como analista de Tecnologia da Informação (TI), respondendo à uma gerência administrativa. Ali comecei a entender a necessidade de um alinhamento claro de expectativas para que todos caminhassem na mesma direção. Uma experiência rica, intensa, e humana, onde as primeiras lacunas de como aplicar as melhores práticas de gestão e liderança apareceram.

O segundo emprego, já com mais responsabilidades no mundo corporativo, veio com uma oportunidade de coordenar uma equipe de TI em uma grande empresa de BH, minha primeira experiência liderando pessoas. Apesar de sempre demonstrar coragem e entusiasmo diante dos novos desafios, eu tinha muitas dúvidas e inseguranças sobre como liderar um time técnico sem dominar tecnicamente as ferramentas e tecnologias para a execução do trabalho, mas de uma coisa eu tinha certeza: precisava confiar nessas pessoas. Estar ao lado, dar suporte, entender as forças e as limitações de cada pessoa, dar liberdade e responsabilidade para que cada um desenvolvesse seu trabalho com segurança. Eu precisava liderar.

A partir disso, comecei a entender que a minha carreira na área de Tecnologia fazia sentido sim, não como especialista, mas conectada e entregando resultados através das pessoas.

E com isso, o meu propósito profissional também começou a ficar mais claro. Comecei a me aprimorar cada vez mais na gestão de pessoas, já que minha formação inicial era muito técnica. Queria entender, na perspectiva acadêmica, como tudo isso se conectava; afinal, um bom líder vive em constante aprendizado – seja com as experiências do dia a dia ou com o aprimoramento acadêmico – melhor ainda com os dois.

Me lembro de uma pergunta feita pela professora do curso de Pós-Graduação voltado a Gestão de Pessoas que me marcou muito: “Quem aqui gosta de entregar resultados por conta dos seus esforços e quem gosta de entregar através das pessoas?” Apenas eu e uma profissional de RH levantamos a mão para a segunda opção, em uma turma de 50 alunos. Aquilo chancelou o que me move até hoje, independente do setor, empresa ou cargo que eu ocupar: desenvolver pessoas para entregar sempre mais e melhor me desenvolve como profissional e ser humano.

Vieram outras grandes experiências profissionais, onde passei a interagir com ainda mais pessoas de diversos setores, segmentos, indústrias e até, nacionalidades. Mais responsabilidade e mais diversidade, o que me mostrou, na prática, o quão fundamental é o papel do líder nos resultados organizacionais e no desenvolvimento da carreira de cada um.

Uma prática que comecei a exercer e que foi muito positiva foi a das “agendas 1:1” com os liderados, com pautas muitas vezes fora das questões empresariais, mas para que houvesse a construção de uma conexão ainda mais sólida com o time, fortalecendo o elo de confiança.

Acredito no autoconhecimento como a chave para uma liderança humanizada e consciente. Foi me conhecendo dentro de um cenário de puro desconhecimento que tracei os principais valores que carrego comigo até hoje, e que nem sempre presencio no mercado corporativo:

•      Transparência e Autenticidade

•      Colaboração e Diversidade Cognitiva

•      Confiança

•      Empatia

•      Humildade

Hoje, com mais de 20 anos de experiência atuando com gestão de pessoas, sigo compartilhando meus conhecimentos, mas, principalmente, aprendendo com cada um que cruza meu caminho. Às vezes de forma conflituosa, às vezes de forma mais leve. O importante é respeitarmos os valores e limites de cada um, sendo empáticos o suficiente para nos tornarmos a base de apoio e desenvolvimento de nossos colaboradores e, assim, nos tornando de fato, líderes.

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