Opinião

Devoção à democracia

Devoção à democracia
Crédito: Aymane Jdidi/ Pixabay

“Pensávamos em reunir no máximo 300 signatários, mas em apenas dois dias o número de assinaturas se elevou a meio milhão” (Um dos autores da Carta da Democracia, elaborada na Faculdade de Direito da USP).

Personagem lendário da cúpula de gente aliada que traçou as estratégias responsáveis pelo desmantelamento da formidanda máquina de guerra nazista, na Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido, proferiu, em certa ocasião, um discurso memorável de extraordinária repercussão até os dias de hoje. Declarou serem providas de inteiro fundamento as críticas feitas por muitas pessoas quanto aos defeitos e falhas do regime democrático. Mas, ancorado em exemplos frisantes, recolhidos ao longo do tempo, mostrou exuberantemente que em nenhum lugar, em época alguma, qualquer modelo de organização política e administrativa revelou-se mais eficaz e melhor para o bem-estar humano, para o desenvolvimento e o progresso da civilização, do que a Democracia. Disse, em suma: “A democracia deixa muito a desejar, mas nada do que se estruturou, em diferentes momentos e países, se lhe pode equiparar”. E estamos conversados…

As palavras de Churchill ganham relevância especial nesta hora em que extremistas de variadas tendências e pseudodemocratas, ao redor do mundo, articulam ações deletérias com vistas a consagrar formas autoritárias de gestão da vida pública.

É digna de registro, a propósito, na hora presente, a circunstância de que nada obstante enfrentar uma conjuntura econômica e social bastante adversa, a nação brasileira dá pujante demonstração de vitalidade cívica. Quem mantém os aparelhos de percepção pessoal interligados com os fatos do cotidiano, percebe um salutar cheiro de “Diretas Já” no ar. Ou seja, uma mobilização palpitante das forças vivas da nacionalidade em defesa dos valores democráticos republicanos, por senti-los ameaçados.

Rotulada de “cartinha”, pelos mesmos que chamaram de “gripezinha” o flagelo da Covid-19, que já levou a óbito quase 700.000 pessoas, com mais de 3 milhões de infectados, a “Carta da Democracia”, elaborada na célebre Faculdade de Direito da USP, Universidade de São Paulo, representa, neste instante, uma referência eloquente do estado de espírito da sociedade brasileira. Na previsão dos autores do documento – que se posiciona contra agressões feitas ao Estado de Direito, aos postulados democráticos que nos regem – 300 personalidades de escol iriam atender ao convite para subscrevê-lo. O que se viu foi agradavelmente espantoso. Em apenas dois dias quase meio milhão de cidadãos aderiram à causa. Políticos, líderes, classistas, empresariais, educadores, juristas, gente de todos os credos, classe sociais, níveis culturais, artistas fizeram questão absoluta em aporem suas assinaturas na manifestação, a ser oficialmente divulgada no dia 11 de agosto, data comemorativa da instituição dos cursos jurídicos no Brasil.  Paralelamente a isso, centenas de organizações, entre elas a Fiesp, a mais poderosa entidade da classe patronal brasileira, todas as Centrais Sindicais, outros organismos representativos dos meios de comunicação social, de associações profissionais, das órbitas oficial e privada, fizeram pública a sua devoção à democracia e seu intransigente repúdio a toda e qualquer tentativa de desacreditá-la.

Essa avalancha de manifestações registrada no território brasileiro, nas grandes, médias e pequenas cidades, e também em singular prova de solidariedade global, noutros países, retrata auspiciosamente que os democratas estão atentos a manobras insidiosas do lateralismo ideológico com suas interpretações retrógradas da aventura humana. A devoção democrática é altamente estimulante no esforço da busca de saídas para os problemas magnos que nos atormentam.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas