Dois candidatos e um empate na economia

Na reta final das eleições nacionais, pelo menos em se tratando do 1º turno, a já polarizada corrida presidencial ganha contornos ainda mais dramáticos. Sobram fake news, debates acalorados e trocas de farpas nas redes sociais, ao mesmo tempo em que faltam projetos consistentes e sinalizações que deem tranquilidade à economia e aos investidores brasileiros.
Para piorar, há ainda uma penumbra que deixa o contexto mais incerto, a inflação global. No Brasil, o combate à alta generalizada dos preços por meio da elevação dos juros em conjunto com outras medidas, como a queda dos preços dos combustíveis feita via ordem presidencial, têm sido eficazes, mas não podem servir de amostra grátis do que virá após o resultado das urnas.
Vencendo Bolsonaro, não há absolutamente nada que permita apontar que a guerra contra os preços seguirá com o mesmo fôlego no segundo mandato. Caso o eleito seja o Lula, também não é possível antever seus planos econômicos para ‘recuperar o País’, como vem apregoando de forma evasiva em sua campanha. O que podemos extrair de concreto de ambos os candidatos são as medidas tomadas em seus governos.
Ao longo dos oito anos de governo do governo Lula, entre 2003 e 2010, o País experimentou de fato uma redução drástica dos juros, que caíram dos 26,32% em março de 2003 para 8,65% entre julho de 2009 e março de 2010. Essa redução abrupta, mas de certa maneira progressiva, refletiu no PIB, que terminou o primeiro mandato com um crescimento de 3,3% e uma inflação estável de 7,5% a.a.
Já o segundo mandato desfrutou de um cenário econômico mundial bastante favorável, que conferiu ao País uma elevação do PIB acima dos 5% anuais e uma inflação na casa dos 4,5%.
Bem diferente do governo Bolsonaro, que viveu a maior parte do seu mandato sob uma pandemia global, dificultando qualquer avaliação assertiva. Foi exatamente isso, aliás, que levou o País a cortar os juros até o piso histórico de 1,9% ao ano, entre agosto de 2020 e março de 2021. Os juros baixos ajudaram no crescimento do PIB, que chegou aos 4,6% em 2021, ante uma queda de 4,1% em 2020, bem no auge da pandemia.
Por outro lado, o movimento de alta da taxa Selic até os atuais 13,75%, é a resposta a uma inflação que afeta a economia em escala mundial, em decorrência do comprometimento da produção industrial provocada pelo isolamento social e ainda pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Mesmo diante desse cenário, as propostas de governo dos principais candidatos ficaram de lado em detrimento aos conflitos ideológicos. Nesse sentido, do ponto de vista econômico, há um empate entre Lula e Bolsonaro que soa como frustração para o investidor que considera essas questões essenciais para decidir o voto.
Mas, e então, como ficam a economia e os investimentos?
O fato é de que, independentemente de quem vencer essas eleições, o próximo ano promete ser bastante desafiador. Mesmo diante de um crescimento projetado de 2,67% para a economia nacional em 2022, a expectativa é de que em 2023 o PIB brasileiro avance apenas 0,5%. E essa projeção que já é pessimista ainda pode ser agravada pela desaceleração global, sobretudo de economias como a da China e Estados Unidos, que são maiores parceiros comerciais do Brasil.
Nessa conjuntura, o investidor pode ficar inseguro na hora de alocar os seus recursos, mas a verdade é que nesses momentos desafiadores também surgem grandes oportunidades e não é preciso reinventar a roda para aproveitá-las.
Com os juros altos, o que deve se manter por mais algum tempo, a renda fixa continua atrativa para os investidores. A Selic em 13,75% ao ano garante aos títulos pós-fixados atrelados ao CDI uma boa rentabilidade para reserva de emergência e caixa dos investidores enquanto o cenário se mantém indefinido.
Já os títulos atrelados à inflação com vencimento maior do que dois anos são uma alternativa interessante para proteger o poder de compra diante das incertezas sobre trajetória de preços e é válido tanto para investidores mais conservadores quanto para os mais arrojados.
Os prefixados, por sua vez, também começam a figurar entre as boas opções para investidores mais moderados e agressivos, pois são eles que garantem maior prêmio em cenário de queda na curva de juros futura.
Já para aqueles com maior apetite ao risco, a renda variável entra no rol de possibilidades. Com os investidores deixando a bolsa de valores para aproveitar os juros mais altos ou por conta dos roídos políticos, o preço de algumas ações ficam descontados, o que gera boa possibilidade upside. No entanto, é preciso ter cautelada, não é só porque caiu que está barato e uma projeção de alta, não necessariamente, é uma promessa de alta.
Diante disso, a dica mais válida para quem quer investir chega a ser um clichê: diversificação. Com uma carteira bem diversificada o investidor fica exposto à diversos setores e indexadores da economia e pode se beneficiar dos mais diversos cenários.
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