Opinião

Dom Quixote e a escolha de Sofia

Dom Quixote e a escolha de Sofia

Entre a sanidade ‘tosca’ e a loucura ‘pária’, os brasileiros escolheram a subjetividade social. Mas com apostas objetivas. Espera-se que o novo governante do Brasil – cuja gestão anterior manchou a história do País com a institucionalização da corrupção – tome a integridade e a governança como premissas. Até porque chegou às vias de uma controversa condenação e prisão, cuja liberdade não foi reconhecida pelo senso comum. Eleito, Lula tem nas mãos o redesenho de sua trajetória política. Precisa aliar confiança ao trato da desigualdade social e do esgarçamento político, sem desfocar a economia e o meio ambiente. Isso começa com a escolha da equipe de governo.

Porém, urge uma responsabilidade ambiental além da preservação, com robustez em tecnologias limpas na matriz energética nacional e maior atenção à gestão hídrica. Dar vazão à fluência logística multimodal, aprimorando e expandindo as malhas rodo, hidro e ferroviárias. Aparelhar o Estado quanto à economia circular e melhor explorar a criativa, com inovação metodológica também no resgate da educação (ambiental, inclusive), além de ampliar a atenção à saúde preventiva, mental, familiar e social. Contudo, o que mais assombra o mercado é a ideologia do PT. E ideias fixas acabaram de se reafirmar como o revés do desenvolvimento sustentável.

Assim, não cabe saudosismo socialista em um mundo de economia de mercado. Nem um Estado que não seja enxuto e funcional, sendo vital resolver o Brasilantes de outras nações. Ameaças ao patrimônio privado (aposentadorias, pensões e poupanças incluídas) e à meritocracia têm de continuar lendas bolsonaristas… Lula herda um país socialmente sofrido e economicamente desequilibrado. Porém, muito mais intolerante; rachado ao meio e diferente daquele Brasil que ele geriu. O agronegócio consolidou-se e inovou-se. Há processos de assentamento da onda ESG e das tendências do Capitalismo Consciente nas academias e gestões; cultura Startup polinizada e melhor compreendida; e uma exaustão do modelo Triple Bottom Line que pressiona organizações a contemplarem novas dimensões da sustentabilidade em seus Balanced Scorecard, incluindo a ‘política’ e a ‘cultura da integridade’, impulsionada pela Operação Lava Jato.

Por um lado, impermeabiliza-se a esfera privada contra brechas de compliance e governança em geral, requerendo maior consistência relacional e visão holística também por parte dos governos. Por outro, exige-se que se modernize a gestão pública, face à complexidade, ao dinamismo e à evolução das demandas. Oportunidade de se aprimorar políticas públicas com metodologias e tecnologias de ponta, em âmbito organizacional, tecnocientífico (pesquisa), sistêmico e humano. Isso demanda investimentos rigorosamente geridos, hábil acompanhamento de projetos, reciclagem intelectual com repertório de novas competências e, claro, vontade política. Necessário também injetar energia jovem para a lubrificação das engrenagens estratégicas, táticas e operacionais do governo. Ao Brasil nunca faltou recurso, mas sobra corrupção e má gestão.

O país varreu, com empenho, seus piores momentos. E, agora, escolheu, legitimamente, livrar-se de dúvidas éticas, descaso ambiental e diplomático; retrocessos culturais, excessos político-comportamentais e baixo desempenho socioeconômico. Porém, os passivos de uma gestão que exumou obscurantismo, fundamentalismo e nazi-fascismo persistiram com bloqueios orquestrados de vias e ódio remanescente nos incapazes de reconhecer que o dublê de mito desintegrou-se no crepúsculo de outubro. Para Freud e imaturos revoltados, talvez a perda do pai (limite) que nunca tiveram ou da chance de satisfazer o desejo de submissão a um ídolo obtuso, pela falta de um propósito pessoal. Ponto parágrafo.

Hora de “parar de mimimi”, cessar a sabotageme deixar ir a resistência à frustração – ou à transição? Inclusive boicotes orçamentários. A passagem da faixa presidencial poderia afluir, simbolicamente, para a paz nacional. Mas, será que, justo agora, haverá humildade e inteligência emocional? À justiça brasileira cabe a manutenção da imparcialidade e da segurança jurídica, assim como desvendar a ‘sigilosa’ gestão que termina. Incluindo a baderna antidemocrática dos últimos dias. Isto poderá assegurar que não se comprova também fake a proclamada integridade do governo Deus-Pátria-Família.

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