É muito desperdício
“O que se perde daria para atender 35 milhões de pessoas.” (Instituto “Trata Brasil”)
Um baita dum problema. A despeito de afetar enormemente o bem-estar coletivo, muito pouca gente tem ciência de sua existência. Do que se está a falar é de uma situação não divulgada com a necessária suficiência, sabe-se lá por que cargas d’água.
Estudo do “Instituto Trata Brasil”, acatada Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), revela que 40 por cento da água potável se perdem no percurso da rede conectada com as moradias dos consumidores. Este impressionante volume do precioso líquido é desperdiçado em razão de vazamentos e fraudes. Para se ter uma ideia mais clara ainda do tamanho do transtorno seja acrescentado que o produto esbanjado é mais do que suficiente para atender as carências de 35 milhões de brasileiros, desprovidos de acesso ao sistema de abastecimento de água.
O problema é crônico, ganhando maior contundência no presente diante da constatação de que os reservatórios brasileiros, por falta de chuva, estão apresentando nível de estocagem bem abaixo da média. O trabalho chama atenção para as más condições das tubulações que representam, assim, parte crucial do problema.
A base do estudo são dados levantados em 2019, pelo Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento. Aponta-se ali que a cada dez copos de água, o Brasil desperdiça quase quatro em razão de vazamentos. A média nacional do desperdício é de 39,2 por cento. Acontece, entretanto, que em 15 estados da Federação esse percentual é ainda mais elevado. As maiores perdas ocorrem nas regiões Norte e Nordeste. No topo da lista do esbanjamento de água potável nas circunstâncias descritas figuram os estados do Amazonas, Amapá e Roraima. Os índices nessas unidades da Federação ultrapassam os 60 por cento. O registro textual, constante do estudo trazido ao conhecimento da opinião pública, é este: “Toda essa quantidade de desperdício em vazamento e fraudes seria mais do que suficiente para levar água a quase 35 milhões de brasileiros que hoje não têm acesso a água potável. São milhões de pessoas que não podem nem lavar as mãos, algo que faz ainda mais falta em tempos da pandemia.”
Outro ponto ressaltado é que, além de social, o problema é também econômico. Há estimativas de que se o Brasil investisse na redução dessas perdas, os benefícios advindos deste posicionamento, seriam de 30 bilhões de reais em uma década.
Pedro Scazufca, pesquisador do “Trata Brasil” enfatiza: “Vai ter que trocar rede, trocar hidrômetros, promover programa de combate a fraudes”. Estudioso do assunto há longos anos, o pesquisador explica que “não é só a água tratada que é desperdiçada”. O investimento no tratamento da água também é esbanjado. Lembra que, no atual cenário da pandemia, a escassez de água ganha configuração mais dramática, reclamando medidas urgentes.
De outra parte, Carlos Tucci, professor de hidrologia da UFRS, argumenta, de acordo com informe do “Trata Brasil”, que deve se buscar “uma eficiência aceitável, um padrão razoável”, nas tomadas de decisão. “Não entendo que se possa sair a curto prazo de 35 a 40 por cento para 15 por cento. É necessário escalonar isso no tempo. Dar tempo para melhoria das redes, substituição das redes que já estão fora da vida útil. Ou seja, é um trabalho extenso. Agora, digamos, a gente tem que começar por algum lugar”.
O “Trata Brasil” esclarece, também, que o Ministério de desenvolvimento Regional anuncia que 99 por cento dos brasileiros, segundo projetos já aprovados, disporão de água potável e rede de esgotos até 2033, e que as metas preveem a redução de perdas.
Por derradeiro, atentemos para o seguinte: o desperdício de que se fala aqui não abrange ações censuráveis do cotidiano, no tocante ao uso da água, depois da chegada às torneiras. Ou seja, limpeza de calçadas, pátios, veículos, e por aí vai.
Ouça a rádio de Minas