Opinião

É saudável a resiliência na recuperação do comércio mundial

É saudável a resiliência na recuperação do comércio mundial
Crédito: Divulgação

Os desafios do comércio globalizado, baseados na crescente interdependência das fontes de produção nos últimos 40 anos, com fluxos sempre crescentes de mercadorias e matérias-primas, não desaceleraram  nos últimos dois anos.

O mundo experimentou, é claro, os impactos sociais e econômicos da pandemia. Essa se tornou, pelo menos semanticamente, uma doença endêmica, refletindo a forma como os cidadãos do mundo estão condicionados a enfrentar regularmente novos vírus.

Os problemas logísticos criados pelos períodos de isolamento social devem como corolário limitar a interrupção do fornecimento de certas matérias-primas ou componentes necessários para as cadeias de produção.

Como resultado, os gargalos na cadeia de fornecimento global contribuíram para os primeiros sinais de inflação nas economias globalizadas. A estratégia de proteção da gestão de recursos através da estocagem só amplificou o fenômeno. Os acionistas também foram afetados pelos resultados enfraquecidos diante destes problemas.

Escancara-se o cenário quando contextualizamos todos os impactos humanos, econômicos e geopolíticos dos contextos das mortes pela Covid-19 e, na sequência, pela guerra da Ucrânia com a Rússia. As instabilidades políticas em outras partes do mundo também estão aumentando os desafios ao comércio global e não apenas a ele, como sabemos.

Nesse sentido, o ambiente dos negócios foi implicado a se redefinir. Novas estratégias comerciais e industriais estão surgindo após décadas de otimização de custos em uma economia globalizada. Vejo nisso uma oportunidade de uma atitude de espera e de observação nos últimos dois anos.

Mais que retomada econômica, defendo que é nessa esperança proativa de sair da crise que reside a (re) virada do comércio mundial. Sem romantismo. Entendo que há uma necessidade em prover alimentos e recursos de produção no mundo. Precisamos desacoplar as fontes de fornecimento pelo menos parcialmente em certas partes do mundo: por exemplo, para algumas empresas, da China, transferindo unidades para o Vietnã ou repatriando parte de sua produção para seu país. Há outras infinitas nuances.

Contudo, estou aqui neste momento mais para falar da relevância da resiliência no comércio global mais que apresentar análises isoladas. Como economista e educadora, acompanho a demanda das multinacionais por países onde a situação política dê esperança. Mais que a confiança no país, a tão almejada estabilidade das nações passa também pela força daqueles que movem o comércio global e o nível de abertura do país.

Vejo como oportunidade transpor os limites da ambição de mudar os modelos econômicos e políticos através do comércio internacional. Passamos de uma lógica de eficiência para uma lógica de proteção no gerenciamento de riscos. E para tal é preciso lançar mão de uma resignação de otimização de lucros a curto prazo com base em novas orientações de médio e longo prazo.

É fato que o contexto complexo de incerteza econômica global, onde é necessário investir nos setores do futuro ligados à transição ecológica, não é passageiro. Além disso, nota-se uma tendência para que certas multinacionais se desliguem das subsidiárias e retornem a uma postura mais protecionista em termos de sua gestão financeira e produção. Este é outro risco que nem sempre é percebido, pois estes caminhos não levarão a novas oportunidades de mercado ligadas a outras formas de comércio global.

Trocando em miúdos, o cenário pode complicar e, além de excelência técnica, precisaremos de um “quantum” de identidade, criatividade e resiliência nas lideranças. Desafiador.

“Cultivemos nosso próprio jardim”, como disse Candide na obra de Voltaire, pensando que estamos protegidos dos assuntos do resto do mundo, é de fato um deles. 

Em síntese, meu objetivo é nos convidar a encarar uma realidade da qual não devemos nos afastar e nos convidar a buscar soluções inovadoras, como sempre! O impacto da situação mundial atual é global e assim continuará. Temos falado principalmente sobre os fluxos logísticos de mercadorias, mas também poderíamos falar sobre fluxos financeiros e, é claro, sobre informações e dados neste nosso mundo digital. Falando como reitora de uma escola de líderes mundial, não hesito em defender: É saudável a resiliência na recuperação do comércio mundial.

O conhecimento em um mundo digitalizado continuará a circular, as necessidades em Educação encontrarão respostas na vontade de compartilhar conhecimento, na política de pesquisa científica aberta. O mundo da educação deve proporcionar acesso ao aprendizado para o maior número de pessoas possível, respeitando as culturas e os sistemas de valores de cada país.

É criando oportunidades de aprendizado abertas para o mundo que teremos a chance de compartilhar as esperanças democráticas e testemunhar a consolidação de sistemas políticos estáveis. E isso demanda bastante compreensão dos desafios sociais globais e, portanto, políticos.

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