Opinião

Economia x Ecologia

Economia x Ecologia

O relatório divulgado na COP27 (Egito, 2022) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) pouco sensibilizou os países mais impactantes a engajarem-se em ações mais pragmáticas em termos de redução (drástica) da poluição. A ONU ainda corre atrás de bater as metas do Acordo de Paris (COP21, 2015), longe de ter eco diante da Economia sobrepondo-se à Ecologia. A moda é condenar cientistas por catastrofismo. Justifica-se que o ‘mercado’, sempre ele, fica “inquieto” com o calor se ele não render um troco. Como se a sustentabilidade fosse apenas uma pauta neoliberal e que todo projeto de redução de impactos ambientais tivesse, adicionalmente, de gerar lucro.

Algumas nações se mostram – no mau sentido – disruptivas em termos de sustentabilidade e ganhando em cima de outras, tornando-se ameaças à competividade econômica. O baixo custo que reduz preços pode estar se nutrindo de descaso ambiental, negligências trabalhistas e sociais, além de forte intervenção do Estado na esfera privada. E candidatam-se à economia de mercado. Fair play? Têm mais “gaps” que “fits” nos relatórios e pouca disposição para o disclosure. Player mais misterioso que transparente, suspeito de espionagem e intervenções em outros países por apoios clandestinos em eleições. Lembrando que a sustentabilidade tem várias dimensões, incluindo a política, a ética e a integridade. Nações sombrias.

Enquanto o compliance masca, os termômetros sobem. Os sintomas de que a questão do clima é grave estão visíveis no corpo da Terra, por mais que se insista no contrário. O ano de 2022 deflagrou ondas insuportáveis de calor na Europa, incêndios por aridez planeta afora e a pior seca na história de Portugal. Perdas de colheitas na Oceania e temperaturas excedendo os próprios recordes na América do Norte fizeram vítimas no verão, principalmente idosos. Enquanto inundações ainda marcam presença no globo, houve um dilúvio na Big Apple e mortes por igual motivo na América Latina que, até julho, superavam o ano de 2021. A modernidade anda mais líquida que nunca. Seca também. Paradoxo do desequilíbrio ecossistêmico.

A questão intensifica-se: água em excesso em algumas regiões e cada vez mais escassa em outras, sendo que a crescente aridez ameaça encrespar tempestades de areia, com riscos de transferir milhões de toneladas entre continentes, segundo especialistas. Isso favoreceria a expansão da desertificação, reduzindo terras produtivas. Talvez seja metafórico a COP27 acontecer no Egito: um oásis de oratórias em um deserto consciencial. Muitas pessoas agora enfrentam a ameaça de não ter mais água de modo regular. Ignorando as previsões de ambientalistas e cientistas, as nações nunca queimaram tanto combustível fóssil. E as matrizes energéticas estão longe de excluir o carbono, em cujo substrato repousa as grandes economias: as que mais poluem! A água poderá estar até o pescoço nas cidades, mas o jogo de empurra continuará a detonar a esperança de um amanhã.

 A ONU chamou as intempéries provenientes das mudanças climáticas de ‘suicídio coletivo’. Ninguém lhe dá ouvidos. Basta ver que só meia dúzia de gatos pingados se comprometeu com mudanças – e com restrições. Há coniventes com a destruição da Amazônia no próprio Brasil e outros no exterior que usam a floresta para desviar o foco de seus telhados de vidro. Poucos propensos a agir. O tempo tecnológico anulou o cronológico desde o ápice da economia digital. Agora ameaça substituir o ritmo orgânico. Corremos na velocidade das máquinas, inclusive em termos de consumo. Ritmo de produção em detrimento do rumo da acumulação.

O planeta emplacou oito bilhões de terráqueos: apetitoso mercado a se explorar, com consequências imprevisíveis. E ainda tem quem provoque guerras, desapropriando a soberania alheia diante da indiferença ao sofrimento evitável, extensiva a um planeta pouco indignado. A cúpula do G20, reunida em Bali, convergiu na ideia de que Putin precisa tomar tento. Mas não passou de ideia. Uma explosão na Polônia mexeu com os ânimos da OTAN, que já esfriaram. Porém, o tabuleiro do clima continua esquentando, enquanto a irracionalidade alarga o abismo entre as duas grandes ‘Ecos’.

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