Opinião

EDITORIA | Em nome da moralidade

EDITORIA | Em nome da moralidade
Crédito: USP Imagens

Dividida em duas bandas, a política brasileira, que chora os mais de 500 mil mortos vitimados pela pandemia apenas quando conveniente, se ocupa presentemente de dois assuntos, a saber, o destino do presidente Bolsonaro e as eleições presidenciais do próximo ano.

O resto é o resto, apenas mera figuração no que resta de pé no protocolo político, numa espécie de mundo à parte que não se dá conta de que o País caminha à beira de um abismo que parece não ter fundo. Caso, dentre tantos outros, do desalinho orçamentário, fabricante de um déficit crescente e de uma dívida que se tornou impagável faz tempo. E tudo por conta do peso de um Estado paquidérmico, onde criar despesas sem a correspondente receita é ato de rotina, absolutamente desimportante nos seus efeitos.

É nesta toada que a Câmara dos Deputados acaba de aprovar, em plenário, projeto que restringe e regulamenta os ditos “supersalarios”, dando fim, por suposto, ao milagre que transforma o teto salarial do funcionalismo público, nos três poderes, que hoje ronda os R$ 40 mil/mês em contracheques que costumam passar dos R$ 100 mil.

Existiriam cerca de 30 pagamentos diversos, do auxílio-residência ao auxílio-paletó, passando pelas verbas indenizatórias que ajudam a completar a farra, por sinal bastante antiga dos marajás, aqueles que o ex-presidente Collor pretendia abater com um único tiro antes de transformar-se em um deles. O projeto em questão, discutido desde 2018, sobe agora ao Senado para, espera-se, aprovação definitiva.

Se acontecer, e uma vez sancionado pelo presidente da República, estima-se que o Estado brasileiro poderá economizar, imediatamente, entre R$ 3 bilhões e R$ 10 bilhões ao ano, finalmente cortando uma fatia das gorduras pelas quais todos, cidadãos contribuintes, pagamos.

Uma possibilidade, um passo à frente, muito embora não seja necessário lembrar que o famoso “teto” foi contornado, décadas e décadas, sem o mínimo de pudor pelos poderosos, seus beneficiários, que certamente não medirão esforços para defender o que gostam de chamar de “direitos adquiridos”, herança que lhes cabe como algo que deveria fazer lembrar o antigo direito divino.

São afinal absurdos próprios de um Estado aprisionado por corporações capazes de produzir miséria para alimentar, perpetuando se possível, sua riqueza e privilégios. Que a discussão presente, atrasada talvez de séculos, possa afinal avançar, ajudando o Estado não só a se manter de pé mas igualmente alimentando a esperança de que sempre é tempo de mudar para melhor.

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