Opinião

EDITORIA | Pacto de salvação

EDITORIA | Pacto de salvação
Crédito: Celio Azevedo

O processo de redemocratização do País, em tese consolidado com a posse do primeiro presidente civil, depois de 21 anos de regime militar, em março de 1985, deveria representar muito mais, sendo entendida apenas como o primeiro passo de um processo que deveria ter sido de reconstrução nacional. Não aconteceu.

A morte de Tancredo Neves, que deveria ter sido o grande articulador da transição, abriu espaço o vice Jose Sarney e composições um tanto heterodoxas, reduzindo espaço para os tão esperados avanços sintetizados nas reformas que consolidariam o sistema político, reformado, abrindo espaços também para a reconstrução da economia.

Um sonho adiado, mesmo com a promulgação da nova Constituição que permanece até o presente com pontos críticos pendentes de regulamentação.

Conhecer esta trajetória é absolutamente fundamental para que o presente seja compreendido, situação que a estas alturas carece de definição mais explícita, nos parecendo suficiente que o País enfrenta a mais grave pandemia dos últimos 100 anos, a crise econômica se agrava enquanto decisões fundamentais são adiadas porque prevalece o debate menor, destituído de sentido e sem vínculo com a realidade.

A rigor, nada que surpreenda, nada que nos faça deixar de pensar que se a reforma política tivesse acontecido tudo poderia ser muito diferente agora. E melhor, sem alianças de conveniência, sem a instabilidade gerada pelo pluripartidarismo hipertrofiado, sem que tenha sido sequer esboçado um verdadeiro projeto para o País, projeto de governo, de Estado, não de poder simplesmente.

Tudo isso nos ocorre a propósito de recente palestra do presidente da Associação Comercial de Minas, Aguinaldo Diniz Filho, para a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), quando voltou a afirmar que o Brasil só reencontra seu rumo a partir de um pacto que congregue todas as suas forças, capaz de promover o entendimento nacional e levar à mobilização dos poderes da República, em harmonia com empresários e o conjunto da sociedade.

Ele nos fala, com propriedade, de um pacto social já aventado em outros momentos, porém abandonado em favor do imediatismo, se não das corporações que se apropriaram do Estado brasileiro, exaurindo-o.

Deixar de entender a questão nestes termos será continuar repetindo os erros que ajudam a compreender as dificuldades atuais, inclusive no enfrentamento da pandemia.

Será acelerar a agonia da maioria para o benefício, que se torna igualmente improvável, da minoria que se ilude com a crença de que o imobilismo pode continuar a favorecê-la. Não, certamente, quando estamos todos à beira do abismo, bem próximos da queda.

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