Opinião

EDITORIAL | A chance de errar menos

EDITORIAL | A chance de errar menos
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

No dia da posse do presidente Biden, dos Estados Unidos, o presidente Bolsonaro cumpriu a contento a formalidade de, por carta, cumprimentá-lo, desejando êxito na sua gestão e dizendo esperar que as boas relações com o Brasil se estreitem ainda mais. Fez o que, até por obrigação, deveria fazer, de certa forma apagando a provável má impressão que deixou por ter sido um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória do então candidato. Foi um bom sinal para a diplomacia, apesar da indelicadeza cometida em seguida com o presidente venezuelano, que mandou três carretas com oxigênio para Manaus, num gesto de cortesia que não foi reconhecido, muito menos agradecido.

São os altos e baixos típicos de uma política exterior que comete equívocos no atacado e no varejo e, ainda agora, por pouco não sofreu as consequências de seus erros, com o País ameaçado de não receber da China, conforme aprazado, insumos essenciais à produção de vacinas contra a Covid, o mesmo acontecendo com a Índia. Contornadas as dificuldades e depois dos sustos que não foram pequenos, é de se esperar que as lições tenham sido aprendidas. Pode ser, tanto que já se comenta em Brasília que o Planalto estaria procurando uma “saída honrosa” para o chanceler Ernesto Araújo, pressão que teria diminuído depois que vacinas vindas da Índia chegaram ao Brasil.

Faz todo sentido, principalmente diante da mudança de governo nos Estados Unidos e seu significado. É preciso, e urgentemente, apagar arestas, a começar da canhestra mensão ao uso “da pólvora” quando não há  possibilidade de diálogo. Tanto quanto não faz o menor sentido continuar chamando a Covid de “vírus chinês” ou permitir que terceiros, muito próximos ao presidente, façam ainda pior. Tudo isso em profundo desacordo com uma diplomacia brasileira que guardava melhores – e reconhecidas – tradições e, pior ainda, contrariando nossos mais elementares interesses comerciais justamente diante dos maiores parceiros do País.

Da mesma forma que não faz o menor sentido tomar partido numa briga que não é nossa na escolha de fornecedores da tecnologia de suporte das redes 5G, conflito que deve continuar, restrito a Estados Unidos e China. Já ao Brasil cabe lembrar que, hoje, 40% da estrutura de suporte de transmissão de dados dependem de equipamentos da chinesa Huawei e uma mudança, condenada até mesmo pelas concessionárias, representaria aumento de custos numa escala absurda.

Por óbvio, o rumo está apontado e os interesses do Brasil, como o próprio presidente da República costumava dizer, vem em primeiro lugar.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas