Opinião

EDITORIAL | A conta da aventura

EDITORIAL | A conta da aventura
Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

Um resultado na votação do segundo turno, desfavorável ao presidente Jair Bolsonaro, provocaria reações dos descontentes, a começar do candidato que, e não por acaso, aproveitou todas as oportunidades que teve para questionar a integridade do sistema eleitoral, além de afirmar que poderia não aceitar derrota se houvessem dúvidas sobre a correção dos procedimentos. Para completar, não faltaram acusações ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal Eleitoral (STE), ditos patrocinadores da grande conspiração.

Era a senha que seus seguidores cuidaram de espalhar, para isso servindo-se das redes sociais e fazendo de mentiras o mote de sua atuação. Tudo ensaiado, tendo como modelo a atuação do ex-presidente Donald Trump, onde só não coube a desastrada – e muito provavelmente fatal – invasão do Congresso. O próprio silêncio e sumiço do derrotado eram mais um sinal do que vinha, além de, possivelmente, tentativa de blindagem, caso a aventura desandasse. Percebe-se que nada ficou ao acaso e nem seria possível, porque bloquear quase trezentos pontos de rodovias em cada um dos estados brasileiros de um dia para o outro seria tarefa impossível sem uma estrutura muito bem montada e articulada.

Ainda assim os que afrontaram os mais elementares princípios da democracia, começando pela negação da derrota e ofendendo tudo que poderiam ofender, militares inclusive, ao reclamarem intervenção “com Bolsonaro no poder”, felizmente perderam o fôlego antes de qualquer resultado, embora culminando suas afrontas ao romper o direito de ir e vir de milhares de brasileiros. Se dizem democratas e colocam Deus acima de tudo. Veio então a terceira etapa, com manifestações em frente a instalações militares, de quem cobram intervenção que não está entre suas atribuições.

Resumidamente, uma vasta coleção de crimes que não ocorreram ao acaso, mas tiveram patrocinadores e financiadores. O mais provável é que estes movimentos continuem se esvaziando e se esgotem, deixando marcas que o futuro político que Bolsonaro já imagina pode ser comprometido.

O importante, o fundamental, é que todo esse lixo seja apenas varrido. Existe farta documentação a respeito do que aconteceu e investigações rumam na direção dos patrocinadores e financiadores dessa aventura e sua logística, incluindo segurança, alimentação e até banheiros para os patriotas de encomenda. Nenhum deles usando sua liberdade de expressão ou manifestação e sim cometendo crimes que estão devidamente tipificados. Que paguem pelo que fizeram e que a sociedade brasileira tenha consciência de que a impunidade será prêmio e convite a novas aventuras igualmente tristes.

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