EDITORIAL | A conta que não é nossa
As bombas, ou mísseis, que explodiram na maior refinaria do mundo, na Arábia Saudita, fizeram bem mais que reduzir à metade a produção no local, um volume equivalente a 5% da produção global.
Alguém já comparou o ataque a um novo 11 de setembro, evidência aceitável de sua gravidade e elemento suficiente para fazer crescer as incertezas. Mesmo que o presidente dos Estados Unidos, depois de dizer que estava armado e com o dedo no gatilho, no dia seguinte, bem ao seu estilo, anunciava disposição de conversar com autoridades iranianas, por ele acusadas de verdadeiras responsáveis pelo ataque.
A imediata reação dos preços do óleo, em proporções próximas à crise dos anos 70, é outra medida do tamanho do problema, que também se refletiu nas bolsas de valores de todo o mundo. São incertezas que se avolumam, justamente num momento em que crescem os temores de que possamos estar caminhando para uma nova recessão, instabilidade também nutrida pelo conflito comercial entre Estados Unidos e China, os dois maiores players da economia na atualidade.
Nesse contexto, será prudente avaliar os riscos que poderão atingir o Brasil, assim como possíveis benefícios do agravamento da crise global.
De pronto e mais uma vez, a questão dos preços dos combustíveis derivados de petróleo. Dessa vez, e ao contrário de momentos anteriores, o Planalto se mostra mais cauteloso, tanto que não correu para anunciar o alinhamento aos preços internacionais.
A informação é de que o governo prefere aguardar, ter uma noção mais clara das proporções da crise e seus desdobramentos. Mas, como seria de se esperar, já tem quem diga o contrário, defendendo que é preciso manter uma política de preços alinhada com o mercado internacional.
Já foi dito aqui, mas nunca será demais repetir. O petróleo é, no mundo atual, o maior instrumento de especulação ou, mais ainda, de dominação econômica. Como e por que então o Brasil, que lutou tanto para alcançar a autossuficiência a partir da extração, inédita, em águas ultraprofundas e paga muito menos pelo seu próprio petróleo, cairia nessa armadilha? E como imaginar entregar essa riqueza justamente a interesses que são contrários aos do País? Como e por que impor ao consumo interno um sacrifício que só é necessário para gerar dividendos na Bolsa de Nova York?
A Petrobras já demonstrou sua capacidade e fez o que ninguém fez. Também cometeu erros e erros muito graves que podem e – supõe-se – estão sendo corrigidos. Tudo isso para que o Brasil não dependa da especulação externa e não se veja obrigado a fazer dieta porque bombas caíram na distante Arábia Saudita.
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