EDITORIAL | A Cultura do Atraso

Independentemente do que apontam os estudiosos, assinalando a velocidade das mudanças que já afetam e afetarão ainda mais o cotidiano e o mundo dos negócios, basta ser observador para a intensidade do processo. Serão mudanças impositivas, fazendo caducar velhos processos, além de mudar o trabalho e as próprias relações entre contratados e contratantes, num processo que, bem orientado, poderá ser positivo para todos. Bom exemplo, na maioria dos casos, é o trabalho remoto, possibilitado pelas novas tecnologias e impositivo por conta da pandemia.
Num sentido mais amplo, aplicativos como Uber e outros podem ser lembrados pela revolução que representaram e aparentemente já consolidada, embora expansão muito rápida tenha provocado alguns desvios. Bom para os usuários, a ponto de provocar mudanças também nos conceitos de progride de veículos, representam comodidade e custos menores. Para o condutor, chance de um ganho extra ou, no caso brasileiro e nas condições que se apresentam, única alternativa de trabalho, não raro de sobrevivência, com independência e autonomia para as partes. Desvios, nesses princípios fundamentais, que sejam corrigidos quando necessário.
O que não parece fazer nenhum sentido é o Estado, paternalista, pretender, mais que regulamentar, intervir diretamente no caso, através do Tribunal Regional do Trabalho, tentando estabelecer vínculo empregatício entre motoristas e operadores de aplicativos. Se a ideia, que não é nova, prosperar, será, podemos imaginar, um tiro nos pés dos motoristas e, muito provavelmente, a retirada dos aplicativos, que fazem sucesso no mundo inteiro, exatamente por seu conceito inovador e custos menores. Em resumo, será um grande erro e, de alguma forma abuso, sendo evidente que quem procura essa forma de trabalho deve conhecer muito bem suas práticas e, se a elas adere, com elas concorda.
Mas o fundamental, o indicativo de retrocesso, é exatamente deixar de perceber o alcance e natureza das mudanças em curso, fruto de novas tecnologias e, como foi dito, que estão mudando e mudarão ainda mais as relações de trabalho. Com inteligência e bom senso tudo isso tende a significar, além de novas oportunidades, relações menos tensas, livre da crença, na maioria dos casos absolutamente infundadas, de que quem oferece trabalho e quem aceita são em princípio inimigos irreconciliáveis. Algo que não faz sentido, tanto quanto não se pode aceitar a exploração impune, sempre que ocorrer, permitindo às partes que se entendam conforme seus interesses, sem a tutela do Estado.
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