EDITORIAL | A espera eternizada
No final das contas, nada além do previsível e do esperado. O Congresso Nacional entra em recesso e só retorna aos trabalhos em fevereiro como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. Houvesse mais seriedade, houvesse compromisso, e seria diferente, provavelmente com suspensão do recesso e convocação de reuniões extraordinárias para dar cabo das decisões urgentes, imprescindíveis, que continuam sendo adiadas.
Só para lembrar, depois de dois anos e muitas promessas, reformas como a tributária e administrativa continuam na fila, aguardando o momento em que nossos bravos parlamentares, num conluio explícito com o Executivo, afinal tenham tempo para se ocupar daquilo que mais importa.
Até há pouco não faziam nada, ou quase, porque estavam ocupados com suas bases, tratando das eleições municipais, ao mesmo tempo os grandes temas nacionais continuavam de lado e assim prossegue porque a pauta passou a ser a escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado.
Os personagens de sempre medindo forças, num jogo de poder paradoxalmente vazio, porque sem absolutamente nenhum conteúdo programático, mesmo com a pandemia atingindo picos assustadores, a vacinação transformada em mais um jogo de disputa e poder e a recuperação da economia demandando energia e coesão ainda difíceis de perceber.
Deputados e senadores agora estão de férias, ocupados talvez com o Natal, que para eles certamente será mais farto que o da maioria dos brasileiros, o mesmo acontecendo com os integrantes do Judiciário, o que na prática leva o Executivo também a um quase recesso.
Devem pensar que o País pode esperar, que não há nada de tão grave que os desobrigue do merecido descanso, fingindo ignorar que a Covid volta a matar quase mil brasileiros por dia, que são absolutamente inquietantes as evidências de que ainda não existe um plano estruturado para a vacinação ou, do lado da economia, que a dívida pública se aproxima do valor do Produto Interno Bruto (PIB), sem sinais de que a economia possa se recuperar na velocidade e intensidade suficientes para permitir que a conta possa ser paga.
Em tese, fica tudo para o ano que vem, começando pelas barganhas que, repetidas as lições da velha política, talvez deem algum fôlego ao governo para, pelo menos, fazer os agrados que possam se traduzir em votos nas eleições do ano seguinte. Difícil mesmo é imaginar, nessas condições, que afinal sobre tempo para assuntos mais sérios, para a correção de rumos que em vários sentidos pode ser sinônimo de sobrevivência.
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