Opinião

EDITORIAL | A falta é de compostura

EDITORIAL | A falta é de compostura
Crédito: Bruno Domingos/Reuters

Senadores e deputados decidiram triplicar a verba destinada ao financiamento dos partidos que participarão das eleições do próximo ano e, neste teatro do absurdo, não faltaram parlamentares que condenaram publicamente o novo assalto ao contribuinte, mas votaram a favor da proposta que agora depende do prometido veto do presidente da República. E leviandade e abusos andam de mãos dadas no Legislativo.

Sem chamar tanta atenção, discretos como recomenda a situação, parlamentares trabalham também para virtualmente desmontar os já precários mecanismos de controle sobre despesas que venham a realizar, substituindo a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por um sistema de auditagem independente, realizado por empresas particulares que se credenciariam para a missão.

Virtualmente são apagadas as restrições e controles, mas, cuidadosos nesse caso, deputados e senadores tomam o cuidado de também propor que seja reduzido de 5 para 2 anos o prazo destinado à apuração das contas, com consequente prescrição de desvios, enquanto continua sendo namorada a ideia da liberação de doações privadas, além de mudanças nos controles do chamado caixa dois.

Fossem outras as condições do sistema político brasileiro e estaríamos diante de mais um escândalo, de abusos a serem conditos em outras esferas de poder. Não parece ser o caso, inclusive, de quem tem chave do cofre mas também tem como principal objetivo, único talvez, justamente chegar à frente nas eleições do próximo ano. Propósito que evidentemente implica tentar ao máximo evitar criar contrariedades, incômodos que podem se transformar em dificuldades à frente.

Em resumo, não é nada difícil prever que, como em ocasiões anteriores, ficará o dito pelo não dito, produzindo-se como única consequência o ato de cavar mais fundo o buraco do déficit público, certamente destino de outros gastos de natureza eleitoral. Dessa forma, também não é difícil prever que o controle orçamentário no próximo exercício tende a ser ainda mais precário, assim reservando novas e maiores dificuldades para os anos seguintes. Tudo isso num país que o próprio presidente da República aponta como “quebrado” e seu ministro da Economia, aquele mesmo que preferia não pensar no que poderia acontecer quando o dólar chegasse a R$ 5,00, não esconde que caminhamos todos à beira do abismo.

Enfim, uma realidade que poderia ser bem diferente, por certo menos penosa, se não tivéssemos todos, cidadãos e políticos, negligenciado a reforma política, aquela que deveria ter produzido o milagre de estancar abusos e devolver à gestão pública seu verdadeiro e único papel.

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