Opinião

EDITORIAL | A farra que não tem fim

EDITORIAL | A farra que não tem fim
Veto do presidente Bolsonaro aponta inconstitucionalidade do projeto de parcelamento de dívidas | Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O presidente Bolsonaro, que parece só enxergar pela frente as eleições de outubro, deu mais um passo em falso quando, tentando reforçar suas bases e angariar simpatias pelos métodos mais diretos, prometeu reajuste salarial aos integrantes das polícias Federal e Rodoviária. Parece um daqueles casos em que atirou no que viu e acertou no que não viu, com sua oferta gerando reações imediatas e contundentes, começando pela Receita Federal, cujos integrantes ameaçam parar todo o comércio exterior brasileiro, e outras categorias, curiosamente todas no andar de cima do serviço público federal, onde um integrante, não faz muito, declarou para quem quisesse ouvir que não tinha como viver com seus R$ 25 mil mensais.

Até o pudor, ou vestígios dele, parece ter ido embora, tudo às claras, direto, sem limites, sem nenhum respeito a valores de que esta gente nunca ouviu falar. Ou como o mundo de quem recebe salário-mínimo ou, aos milhões, nem isso, fizesse parte de uma outra galáxia, onde também devem estar os contribuintes que, compulsoriamente mas um tanto lenientes, sustentam toda essa farra. E com espaços para coisas ainda piores, como o caso de 18 procuradores do Ministério Público Federal que, por gentileza do procurador-geral Augusto Aras, receberam nos dois últimos meses do ano passado pagamentos adicionais que elevaram seus vencimentos no último mês do ano a R$ 400 mil. Eram os tais “penduricalhos”, que, na campanha eleitoral passada, o então candidato Jair Bolsonaro, indignado, prometia dar fim, caso fosse eleito.

Nesse mundo à parte, tem razão aquele fulano indignado com a miséria de seus R$ 25 mil mensais, assim como todos os demais que cobram isonomia – com quem exatamente? – prometendo parar o País caso não sejam escutados. Dizem em Brasília, até agora sem nenhuma confirmação, que o presidente da República anda tentando negociar alguma moderação com seus apadrinhados, que por suposto não seriam tão mesquinhos a ponto de condicionar apoio a agrados explícitos e nada modestos. Tanto mais que persiste o risco também do tal efeito dominó que elevaria os gastos com pessoal a proporções que nem o fim dos precatórios cobriria.

Concluindo, caberia que o economista Paulo Guedes escolheu, e em todos os sentidos, péssima hora para reafirmar que a economia do Brasil vai bem, está reagindo e tem pela frente tempos melhores. Mesmo que não se saiba de onde ele possa ter tirado tanto otimismo, não resta dúvida de que deu munição para os rebeldes, que ademais nunca consideraram demasiadas suas benesses.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas