Opinião

EDITORIAL | A farra que não tem fim

EDITORIAL | A farra que não tem fim
Crédito: Rmcarvalhobsb / stock.adobe.com

Alguém ainda se lembra? O ex-presidente Collor, que sobrevive na política como uma espécie de zumbi, chegou ao Planalto tendo como principal bandeira uma prometida guerra aos marajás. Dizia-se de olho naquelas figuras, a maioria alojada em Brasília, donas de contracheques que simplesmente não existem no setor privado, nos quais cabem, inclusive, benesses como auxílio-moradia – mesmo para quem tem casa particular na cidade – ou “vantagens”, termos nada apropriado se não para ajudar a esconder a realidade pelas quais uma sociedade minimamente organizada não aceitaria pagar. Collor passou e os marajás, que na realidade permaneceram e permanecem, continuam ajudando a fazer da Capital Federal a cidade com maior renda per capita no País.

Quem pensa no assunto não precisa ficar imaginando exclusivamente aquelas excelências pomposas, ocupantes dos gabinetes mais luxuosos, donos dos tais “penduricalhos” aos quais o hoje presidente Jair Bolsonaro também prometeu dar fim. Como imaginação é o que não falta aos patrocinadores e avalistas dessa farra, o problema é muito maior por conta do tal “efeito cascata”, que reserva a praticamente todos os servidores públicos parte desse butim.

Faz pouco tempo o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou proposta de reajuste de 18% a partir do próximo ano, quando as contas públicas estarão absolutamente estouradas. Nada, porém, que tenha merecido atenção do Ministério Público, cujos integrantes estão por entrar na fila dos aumentos, e do Legislativo, que promete tratar do assunto assim que passar a eleição. Na prática, não será exagerado afirmar que até os ascensoristas, que continuam existindo no serviço público embora hoje os elevadores sejam quase todos automáticos, também levarão sua fatiazinha nesse bolo.

A essas alturas, evidentemente, que poucos são os que se lembram de discursos pomposos, alguns deles feitos em palanques, condenando este vasto rol de abusos, afirmando que o Estado brasileiro está “inchado”, representando um peso que não pode mais ser suportado. Na sequência, juras de dedicação às reformas política e do Estado, que todos defendem, ninguém que tenha juízo condena, mas que não saem do lugar.  Tudo isso numa terra em que milhões de indivíduos estão abaixo da linha da pobreza e faltam recursos para áreas tão críticas quanto saúde e educação.

Seria exagerado lembrar a rainha Maria Antonieta, da França, que ao saber que faltava pão para seus súditos, recomendou que comessem brioches. Pelo menos que seu destino sirva de alerta.

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