Opinião

EDITORIAL | A farsa que custou caro

EDITORIAL | A farsa que custou caro
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Para derrubar a então presidente Dilma Rousseff ou, antes, retirar da futura corrida sucessória o ex-presidente Lula, que já aparecia como candidato imbatível, armou-se, no País, uma grande farsa. Em primeiro lugar a hipócrita preocupação com a corrupção, que até mesmo a dita grande imprensa, hoje tão cheia de pudores, trabalhou arduamente para fazer crer ser invenção e exclusividade do partido então no poder. Uma constatação objetiva e irrefutável, complementada pelo que chamavam de desastre administrativo então em curso, com aumento dos gastos e uma situação de desequilíbrio fiscal dada como insustentável, que teria como resposta rigoroso ajuste fiscal, em que cortar na própria carne era promessa constantemente repetida.

Os donos desse discurso, que de sério tinha quase nada, talvez só não imaginavam, talvez ofuscado pela própria ambição, que a vaga aberta a fórceps acabaria ocupada pelo capital Bolsonaro, que correu por fora, mas soube aproveitar o clima, repetindo que daria fim à corrupção, às mamatas e aos penduricalhos que adornam os contracheques dos marajás da República.

Muito provavelmente estariam todos apenas pondo em prática a velha máxima, segundo a qual é preciso mudar para deixar tudo como está.

Resumindo, a rigor nada do que foi prometido foi feito, muito pelo contrário. Os gastos não pararam de crescer e junto com eles o endividamento público, que segundo as últimas contas do Tesouro Nacional, já soma R$ 5,499 trilhões. Pior é que, a prosseguir na toada, em pouco tempo esse valor parecerá conta de padaria, afinal é preciso irrigar as eleições do próximo ano, o que está sendo feito com malabarismos nada sutis como o calote dos precatórios, o tal orçamento secreto, que bravamente resiste a todos os ataques, além de gordos reajustes salariais prometidos, e não terá sido por coincidência, justamente aos setores – basicamente policiais – dos quais o atual governo espera apoio.

Para resumir, tudo que está sendo feito, e sem nenhum movimento que aponte a direção do bom senso e da responsabilidade, está produzindo uma conta que não fecha e que nos próximos anos fatalmente crescerá de forma insustentável, numa ciranda na qual só se pode apostar no pior. E num Estado a cada dia que passa mais gordo, cofres exauridos e nenhuma capacidade de investir em condições capazes de sustentar a retomada do crescimento. Eis o quadro que se pode imaginar para os próximos anos, muito provavelmente transformando em pesadelo a vida de quem chegar na frente em outubro do próximo ano.

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