EDITORIAL | A floresta da vergonha
No dia 6 de agosto de 2016 um belíssimo evento no Maracanã marcou a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, com participação de doze mil atletas e assistido por alguns bilhões de pessoas em todo o planeta. Num dos momentos de maior brilho do espetáculo cada um dos atletas foi convidado a plantar, simbolicamente, uma semente de árvore, depositadas em totens, que, no centro do estádio, formaram os anéis olímpicos. Foram 13 mil sementes de 207 espécies que seriam transferidas para o subúrbio de Deodoro, abrigo do Parque Radical e da futura Floresta dos Atletas. Dizia-se, então, que as sementes germinariam e cresceriam, eternizando aquele momento e ao mesmo tempo reafirmando o compromisso do País com as questões ambientais.
E tudo isso diante de dois e meio bilhões de testemunhas espalhadas por pelo menos duzentos países, espectadores maravilhados da abertura dos Jogos do Rio. Uma empreitada temerária, decidida dez anos antes e que custou R$ 41 bilhões, 51% a mais que o orçamento inicialmente previsto, ajudando a alimentar a corrupção e os escândalos que são hoje conhecidos. Tudo isso com a justificativa de que o Brasil estaria projetando sua imagem como nunca, promovendo o turismo, atraindo novos investimentos e deixando, para a população local, um legado de obras públicas de igual relevância.
Passados pouco mais de dois anos, as principais e mais custosas instalações olímpicas estão abandonadas e sem uso, em processo de deterioração, o que também acontece com a Vila Olímpica, milhares de apartamentos construídos para receber os atletas e que, vendidos, deveriam estar agora abrigando famílias de classe média. Estão também fechados, muitos ainda inacabados, reforçando a ideia de que o prometido legado olímpico encontra sua melhor representação nas contas que ainda não foram pagas, nos dirigentes processados por desvios de conduta e de recursos. Nada pior, porém, do que o vexame da floresta cujas mudas estão hoje depositadas no interior do Rio de Janeiro e que dificilmente um dia chegarão ao seu destino.
Para o País que pretendia polir a sua imagem é um desastre de proporções também inéditas. Quem assistiu o espetáculo do dia 6 de agosto de 2016 não poderá ver, na abertura dos Jogos de Tóquio 2020, o documentário que deveria ser produzido exatamente mostrar o crescimento da Floresta dos Atletas. Muito menos compreenderão as explicações dadas até agora e segundo as quais não houve previsão de orçamento para o transporte e replantio das mudas no seu destino em Deodoro, um dos locais em que os Jogos do Rio foram realizados.
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Tudo isso produz vergonha e indignação, sobretudo na medida em que nos faz enxergar, ou ilustra, a que ponto chegou a degradação das esferas públicas em nosso País.
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