EDITORIAL | A história nos ensina

Muito provavelmente historiadores, tanto melhor se num trabalho conjunto com cientistas sociais, seriam as pessoas mais indicadas para explicar o papel das Forças Armadas na política brasileira e o seu significado. Um esforço necessário e, mais, oportuno, face a acontecimentos mais recentes que produzem, aparentemente, indesejados sinais de intranquilidade.
Certo é que, dando um salto do passado ao presente, não é difícil perceber indícios de manipulação, de tentativas de envolvimento que, também tudo faz crer, não corresponde nem à vontade nem aos princípios da alta oficialidade, no sentido de qualquer movimento que de alguma forma extrapole os limites de sua atuação, conforme estabelecido na Constituição.
Em primeiro lugar e em resposta aos que pensam de forma contrária, seria necessário deixar bem claro que comandos e alta oficialidade de hoje, bem como seus subordinados, não podem ser responsabilizados pelos vinte anos em que nosso País foi desviado dos princípios constitucionais para mergulhar num regime de exceção, na realidade estimulado por elites civis e guardando larga distância da vontade da maioria.
Definitivamente não há como associar o presente ao passado, cabendo somente guardar as lições que nos impeçam de cometer os mesmos erros. A compreensão do presente deve, necessariamente, partir desse ponto, o que ao menos formalmente coincide com as manifestações do alto oficialato, que repetem seu dever e compromisso de não se afastarem “das quatro linhas da Constituição”.
O que se passa fora desses limites é evidente manipulação, tal como aconteceu no passado, e em condições a cada dia que passa mais difíceis de disfarçar. O importante, entendemos, é que as Forças Armadas não caiam nessa armadilha, não deixando ser envolvidas por interesses ou alegados compromissos que evidentemente não são os seus. E não seria preciso recorrer a historiadores ou cientistas sociais independentes para compreender até que ponto a situação é tensa e delicada, assim como a extensão dos riscos envolvidos.
Os valores acolhidos e por defender são evidentemente outros, muito mais elevados, claramente expressos na Constituição e traduzidos, de maneira mais direta, no indeclinável compromisso com os valores que a democracia consagra, além da defesa permanente dos interesses nacionais, num contexto que vai muitíssimo além da elementar defesa das fronteiras e do território nacional. Cabe esperar e acreditar que tudo isso, ao contrário do passado, esteja hoje bem claro, de tal forma que aventuras indesejadas, impertinentes, não encontrem nas Forças Armadas qualquer tipo de amparo.
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