EDITORIAL | A história nos ensina

Não é preciso muito. Basta conhecer a história ou recorrer às coleções dos grandes jornais independentes para entender até que ponto as ditas potências ocidentais são arrogantes e prepotentes, além de absolutamente incoerentes. Quando convém, como agora, se apresentam como defensoras da liberdade e da democracia e se atribuem o direito de intervir onde quer que seja em nome de ideais tão nobres. Mas se esquecem, ou fingem esquecer, que foram as grandes patrocinadoras de ditaduras mundo afora, sempre que lhes foi conveniente.
Quem se lembra de 1964 sabe que o golpe militar só foi possível porque navios dos Estados Unidos estavam nas costas brasileiras, bem armados e prontos a intervirem se necessário. Diziam defender a democracia mas patrocinaram uma ditadura que durou mais de 20 anos. Fizeram o mesmo no Chile e em outros países, Venezuela inclusive, e fazem hoje na Arábia Saudita, onde o único valor que enxergam e defendem é o petróleo.
Registros bem documentados, isentos e assim reconhecidos, confirmam que o que foi dito acima é história, a mesma que nos conta o pavor da nobreza europeia, que à época era praticamente uma só família, diante da revolução russa e como este sentimento foi transformado em ataques diretos e tentativas de intervenção, além de um ódio eterno, cuidadosamente cultivado e alimentado pela propaganda – as fake news são muito mais antigas do que se imagina – e só não se transformou ainda em confronto aberto porque os dois lados dispõem de arsenais atômicos e estão com o dedo no gatilho. Junto com a propaganda outra arma muito utilizada foi a mentira, caso agora das provocações em torno de Taiwan ou, pouco antes, em torno de Hong Kong, que são parte do território chinês.
Quanto a Taiwan, e mais uma vez em nome da liberdade da democracia, esquecem que a pequena ilha foi apenas o refúgio final do general Chiang Kai-shek, suportado pelos Estados Unidos e derrotado pelo exército chinês, comandado por Mao Tse Tung. Deixá-los por lá não foi mais que artifício para isolá-los, o que nunca significou renunciar ao território. Em Hong Kong não foi muito diferente. Território chinês invadido pela Grã-Bretanha, que por lá permaneceu durante 156 anos e devolvida aos chineses em 1997, data fixada em acordo anterior. Como dizia Goebbels, um dos líderes nazistas, repita uma mentira mil vezes que ela se transforma em verdade.
Tomada a lição de forma literal, o que foi o caso e ajudou a transformar Hollywood numa máquina de propaganda, ostensivamente assumida por Washington como jamais houve outra, fica bem mais fácil compreender o que se passou a posteriori, até chegar aos dias presentes. Para resumir, um jogo de dominação em que é preciso evitar a qualquer custo que a China tome a dianteira, como já está acontecendo.
Ouça a rádio de Minas