EDITORIAL | A impunidade fala mais alto
O combate à corrupção, exaustivamente apontada como pecado maior das administrações petistas, foi argumento exaustivamente repetido para apear o partido do poder e, dizia-se, retomar os bons costumes. Bandeira que ajudou a eleger muitos políticos e, sobretudo, impedir o retorno do ex-presidente Lula ao poder, hoje soa como piada de mal gosto, cujo exemplo mais recente foi a prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, acusado de ajudar a surrupiar pelo menos R$ 50 milhões, no caso cobrando comissões para liberar pagamentos atrasados. Um exemplo, apenas o último, entre muitos outros a rigor encontráveis em todos os escalões da administração pública e da política, onde as exceções, parece, podem ser contadas nos dedos das mãos.
Triste sina deste País, tão pobre, tão carente, mas ainda assim capaz de gastar mal, gastar muito e de permitir que os maus feitos sejam prática corrente, disseminada, longe de ser exceção. Nada a estranhar, portanto, que, nesse exato momento, a Operação Lava Jato, mesmo que sejam grandes as desconfianças pelo menos com relação a seu processo seletivo de atuar, esteja sendo claramente desmontada, que a Polícia Federal esbarre em amarras que não poderiam ser admitidas e, se já não bastasse, para completar a chamada Lei da Ficha Limpa, que pelo menos ajudou a afastar alguns elementos mais notórios, tenha sido parcialmente apagada, o que só não foi consumado por interferência da Procuradoria Geral da República (PGR), que recorreu ao Supremo (STF) contra decisão do ministro Nunes Marques, recém-nomeado, que diminuía o tempo de ilegibilidade dos alcançados pela lei, também chamados de “ficha suja”.
Para piorar, não são estes os únicos sinais de que a cruzada contra a corrupção não tenha sido mais que um atalho para o poder, se não para a própria corrupção. Dentre as evidências da existência de ação bem orquestrada nessa direção e, pior, com que as vozes que se levantaram antes agora se calem, uma outra “operação”, esta destinada a apurar desvios bilionários nos fundos de pensão de empresas estatais, está virtualmente paralisada, com seu coordenador recém-nomeado afirmando, em ofício, que não está no posto “para trabalhar muito” e sugerindo que os próprios fundos peçam ressarcimento de danos.
Com o tamanho dos problemas que o Brasil encara ou, pelo menos, aqueles de dimensões econômicas e financeiras, é absolutamente estarrecedor que a situação tenha chegado a este ponto, deixando evidente que nem mesmo as condenações e prisões realizadas bastaram para estancar a corrupção, amedrontando seus autores que, pelo visto, continuam apostando na impunidade.
Ouça a rádio de Minas