Opinião

EDITORIAL | A maldição do petróleo

EDITORIAL | A maldição do petróleo
Crédito: REUTERS/Nick Oxford

Possuir reservas próprias ou acesso a fornecedores confiáveis, possibilidade não raro garantida com a força das armas é, na atualidade, precondição para a estabilidade econômica de qualquer país. E não seria diferente com relação ao Brasil, que nos idos dos anos 50, no século passado, criou a Petrobras exatamente tendo em conta estas premissas.

Uma questão econômica, estratégica, de sobrevivência, pode-se afirmar, equivocadamente transformada em questão política, repetido o velho e nocivo conceito de “nós” e “eles”. Houvesse mais bom senso e todos deveríamos estar juntos em torno do mesmo objetivo, cuidando de encontrar e trabalhar o caminho que conduza à prosperidade coletiva, processo no qual o acesso ao petróleo continua sendo crucial.

Embora num ciclo aparentemente não muito distante de se esgotar, o petróleo ainda domina o mundo e o Brasil, hoje, faz parte do restrito grupo de países que possuem grandes reservas, uma posição estratégica altamente vantajosa mas que também carrega a maldição da cobiça a qualquer preço e a qualquer custo.

Daí a politização da questão, de um lado demonizando o controle estatal, de outro tentando sustentar falsos conceitos de liberdade de empreender e associando essa liberdade à competência e à probidade, como se fosse possível esquecer como e a que custo foram construídos os grandes impérios petrolíferos. Ou deixar de lembrar que a Petrobras foi capaz de prospectar e extrair petróleo dois mil metros abaixo do nível do mar e em águas profundas.

Tudo isso nos ocorre a propósito da notícia de que a Petrobras acumulou, no segundo trimestre do ano, lucro de R$ 42,8 bilhões, valor que corresponde à alta de 3.572,2% em relação aos primeiros três meses do ano. Valorização do óleo cru no mercado internacional e aumento das vendas explicariam a diferença, segundo a empresa.

Fatos que só não permitem comemorações retumbantes porque existe um outro lado onde se encontram milhões de brasileiros humildes que voltaram a utilizar lenha para cozinhar porque o preço do botijão de GLP, sigla para Gás Liquefeito de Petróleo, mais que dobrou, passando dos R$ 100,00, enquanto gasolina, etanol e diesel tiveram majorações muito acima da inflação.

Tudo por conta do injustificado alinhamento de preços praticados internamente ao mercado internacional, ou à especulação em bases intoleráveis, o que em termos práticos significa que continuamos dependentes da conjuntura externa, quando dela poderíamos nos libertar.

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