EDITORIAL | A novela que não tem fim

Quando desembarcou em Brasília, em janeiro de 2019, para ajudar a inaugurar o governo Bolsonaro, o recém-nomeado ministro da Economia, Paulo Guedes, estava confiante. Primeiro, porque todos acreditavam que ele seria uma espécie de superministro, o verdadeiro condutor da nova gestão; segundo, porque ele próprio tinha como certo que concessões e privatizações atrairiam capitais externos em volume suficiente para mover a economia brasileira, recolocando-a na rota do crescimento. Desnecessário dizer que não foi exatamente o que aconteceu.
Ilustra esta conclusão o recente anúncio de que o governo federal decidiu dividir em duas a concessão para as BRs 381 e 262, nos trechos que farão a ligação terrestre entre Belo Horizonte e o Vale do Acho e, seguindo, em direção ao Espírito Santo. Depois de duas tentativas frustradas, o Ministério dos Transportes admitiu que a mudança visa tornar mais atraente sua oferta, começando pela BR 281, mais conhecida como Rodovia da Morte, cuja duplicação se arrasta há mais de 20 anos. As expectativas agora são de que o leilão seja realizado no final do ano, de tal forma que, chegando a bom termo, os contratos possam ser firmados em 2023.
Sobre a BR 262, uma novela ainda mais antiga, existem da parte da administração federal apenas evasivas, garantindo que o projeto continua em avaliação, buscando um modelo que garanta os investimentos necessários à sua modernização, não necessariamente em regime de concessão. Cabe lembrar, a propósito, que o governo de Minas cobra celeridade nas decisões que tanto interessam ao Estado como sugeriu que parte dos recursos necessários venha das indenizações devidas pelo colapso da barragem da Samarco em Mariana.
Empresários que se manifestaram sobre as novidades foram realistas, dizendo acreditar que a divisão proposta pode tornar mais atraentes as ofertas, mesmo que seja ainda maior o tempo transcorrido até que as obras estejam concluídas e entregues. Um deles, em declarações ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, lembrou o que chamou de “vexame da BR 381”, que deveria estar pronta há pelo menos dois anos, mas que dos 14 lotes colocados em concorrência apenas três foram concluídos. Também relatou o que ouviu de um investidor espanhol que “prefere o cenário se acalmar para voltar a aplicar dinheiro no País”.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Com realismo, são dados a considerar, porém sem que empresários e políticos mineiros não percam de vista a crucial importância da ligação rodoviária com o Espírito Santo e, assim, não perderão também a disposição de continuar cobrando da administração federal o ponto final desta já longa história.
Ouça a rádio de Minas