EDITORIAL | A omissão que nos custa caro

Faz tempo, muito tempo, que o Paraguai se transformou numa espécie de entreposto de contrabando para o Brasil, numa atividade constante, diversificada e que movimenta milhões, ou bilhões, de dólares a cada ano. E gerando um prejuízo que não é só financeiro, posto que a atividade ilegal e realizada às claras incorporou também o tráfico de drogas e de armas, em íntima associação com o crime organizado, que opera dos dois lados da fronteira. Espanta a falta de reação, numa quase evidência de cumplicidade, numa aceitação tácita do que se passa ou como se o Brasil não tivesse condições para impor a qualquer custo a leniência que claramente começou no país vizinho e hoje parece ser a principal peça de sustentação de sua economia. E não vai nenhum exagero nessa afirmação.
É o que nos contam dados divulgados antes do Carnaval e relativos, exclusivamente, ao contrabando de cigarros, atividade que já controla o mercado nacional. Em Minas Gerais, especificamente, conforme dados apurados pelo Ibope, 63% do mercado de cigarros já foi ocupado pelo produto contrabandeado, quase todo ele vindo do Paraguai, o que correspondeu a um mercado de R$ 1,2 bilhão no ano passado e evasão fiscal da ordem de R$ 474 milhões. A média nacional, segundo a mesma fonte, não é menos assustadora, indicando que 47% do mercado de cigarros comuns estão em mãos do contrabando, situação da qual resulta sonegação, considerados mais uma vez o valor do ano passado, de R$ 11,8 bilhões, que já é superior ao volume de tributos recolhidos pela indústria local e legalizada.
Cabe notar que estes valores astronômicos dizem respeito a uma parte do problema, a tributária, e não contabiliza os prejuízos da indústria nacional, de sua rede de fornecedores e revendedores e, em toda a cadeia, daqueles que perderam seus postos de trabalho. Sem falar do resto, de uma conta e de prejuízos que podem ser ainda maiores, ou que seja preciso lembrar que a parte mais substancial do roubo de veículos registrada no País ocorre porque é alimentado pela demanda do mercado paraguaio, servindo também como moeda para a compra de drogas, é absolutamente assustador e espantoso que tudo isso aconteça às claras e sem a reação que se impõe.
Nas condições que são sabidas, são antigas e envolvem diversos outros aspectos que não foram sequer mencionados nesse comentário, fica evidente que não estamos diante de mais um caso, ou casos, de polícia, e sim de relações deturpadas, viciadas e no mínimo omissas entre estados nacionais.
Esclarecer quem ganha e quem perde pode ser o primeiro passo para que o problema comece a ser resolvido.
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