[EDITORIAL] A questão é fazer bem feito
Economista formado na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG e pós-graduado na Universidade de Chicago, expressão mais forte do liberalismo econômico, o ministro Paulo Guedes não esconde ou disfarça suas ideias e assume o risco de desagradar áreas sensíveis do governo do qual faz parte. Para ele, além das reformas estruturais, as privatizações são a chave das transformações que gostaria de ver implementadas no Brasil. Segundo ele, tudo que puder ser vendido, e desde que tenha compradores, deve ser vendido, passando pelos bancos oficiais e chegando à Petrobras, que o próprio presidente da República já retirou da lista por considerá-la estratégica, no que está absolutamente certo.
As empresas estatais no Brasil cometeram muitos erros, mas são donas, igualmente, de uma fileira de acertos que não podem ser esquecidos. Fala-se muito, por exemplo, da ladroagem que tomou conta da Petrobras e pouco do trabalho por ela desenvolvido primeiro para identificar as reservas de petróleo do pré-sal e, segundo, para viabilizar sua exploração, que hoje já responde pela maior parte do óleo extraído em território nacional. Reservas que se colocam entre as maiores do mundo e o Brasil entre os grandes produtores.
O petróleo move o mundo, controla a economia no Planeta e explica a maioria dos conflitos, armados ou não, do nosso tempo. Não abrir mão dessa condição é estratégico, diz respeito ao futuro que desejamos construir e está intrinsecamente ligada à soberania do País. Quanto aos erros e abusos cometidos, que sejam apurados e punidos com máximo e definitivo rigor, sem o entendimento equivocado de que alienar seria a única solução possível. Muitos se interessam por este caminho e são os mesmos que imaginam que instituições como a Caixa Econômica Federal, que atende à população de renda mais baixa e sustenta programas habitacionais e outros de natureza social, não fazem nenhuma falta, seriam apenas “cabides de empregos”, o mesmo acontecendo com o Banco do Brasil, que assegura um mínimo de equilíbrio num mercado altamente concentrado, controlado de fora do País e em que apenas quatro ou cinco estabelecimentos dominam 80% do mercado.
Isso não é saudável e, para completar, é altamente arriscado, o que também acontece com a área de geração e distribuição de energia, dentre outras, numa longa lista que certamente não inclui excrescências como a estatal criada para construir o trem-bala Rio-São Paulo, mas acaba sendo apontada, impropriamente, como exemplo dos erros a corrigir. O que é preciso é fazer bem feito, com eficiência e probidade, o que já provamos que somos perfeitamente capazes de fazer. Para além, será um salto no escuro e de consequências fatais.
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