EDITORIAL | A questão é sobreviver

Sobre a concentração de renda no planeta, registra, preocupado, em recente comentário, o jornalista Manoel Guimarães: “1% dos mais ricos detém 38% de toda a riqueza produzida no mundo nos últimos 26 anos. Desde 1995, os 50% mais pobres capturaram apenas 2% do montante. Hoje, 520 mil bilionários, que fazem parte do grupo 0,01% mais rico, concentra 11% da riqueza global. Isto é o que mostra o último relatório Desigualdade Mundial”. Destes dados só é possível concluir que, além de perversa, a ordem econômica global é também disfuncional, num processo tanto pior quando se constata que é também evolutivo.
São muitos, hoje, os que reconhecem o problema, entendendo-o como a melhor explicação para a pobreza, para uma situação em que bilhões de indivíduos vivem no limite das condições de sobrevivência. Não são poucos também aqueles que, em condição melhor, preferem fingir que não percebem o que passa à sua volta. Não tem culpa, simplesmente, e assim não se dão ao trabalho de pelo menos tentar conhecer e compreender as causas desse desequilíbrio estrutural, que se agrava e, adiante, poderá ser fatal. Ou quantos perceberiam que a aceleração da migração em direção aos países mais ricos, europeus principalmente, tem potencial para produzir novas e maiores tragédias?
Gente que escapa, aos milhares, de países do Norte da África, principalmente, buscando sobreviver e, se conseguem, são acolhidos precariamente, um novo e grande problema cuja dimensão pode ser constatada por quem vê a elegante Avenue des Champs-Elysées, em Paris, transformada em abrigo de imigrantes desvalidos. Seria muito mais barato, seria muito mais justo, criar condições para o retorno destes fugitivos do abandono a seus países de origem. Um movimento simplesmente racional, porque até menos custoso provavelmente, além de, sobretudo, bom para os negócios como gostam de dizer os adoradores da vaca dourada felizmente expulsa da calçada da Bolsa de Valores em São Paulo.
Falar de empatia, palavra ultimamente muito repetida mas ainda pouco considerada, certamente seria pedir muito, restando assim apontar o caminho do pragmatismo, mostrando que encontrar uma saída tende ser melhor para uns e outros. Tudo isso sem ideologias, sem considerações políticas, duro dizer, mas até mesmo sem referências éticas, morais ou religiosas. Em suma, recursos e conhecimentos que a humanidade acumulou podem e dever ser mais bem utilizados ou fatalmente se perderão. E para todos, independentemente do lugar que ocupem.
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